Análise e Opinião

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Quanto é o suficiente? Uma breve análise sobre emoções e vieses cognitivos no mercado financeiro

Por
João Victor Musso

O que BraisCompany, Xland, Bernie Madoff e McKinsey têm em comum? Em todos os casos de escândalos financeiros, os vieses cognitivos afetaram o poder de decisão e levaram a um fim ruim, seja por esquema de pirâmide ou por uso de informação privilegiada.

Segundo o autor Morgan Housel, em seu célebre livro “Psicologia Financeira”, as emoções  e os vieses são responsáveis pelas nossas escolhas. Ele apresenta exemplos de como a ganância, o medo, a inveja, a aversão à perda e outros fatores emocionais podem levar a decisões financeiras irracionais e, consequentemente, a resultados negativos para nossas finanças.

O autor cita dois exemplos especificamente desse viés. O primeiro deles é do ex-CEO da consultoria McKinsey. Gupta ficou órfão na adolescência, mas se tornou um empresário de sucesso aos 45, aposentando-se em 2007 depois de integrar conselhos em empresas de capital aberto, cargos na ONU etc. No entanto, o executivo foi preso em 2008 por uso de informação privilegiada na transação entre Warren Buffet e o Goldman Sachs sobre uma possível compra do banco pela Berkshire Hathaway, empresa de Buffet.

O segundo exemplo é bem mais conhecido e já foi tema de séries, livros e filmes, tornando a história ainda mais famosa. Bernie Madoff foi um corretor de ações muito bem-sucedido em Wall Street, chegou a ser coordenador-chefe da NASDAQ, a segunda maior bolsa de valores dos EUA. Porém, sua ganancia fez com que criasse um esquema de pirâmide financeira, que ficou conhecido como “esquema Ponzi”.

Com início na década de 1970, o esquema atingiu mais de 37 mil pessoas em 136 países e ter desviado algo em torno de mais de U$ 30 bilhões.

Ambos os empresários foram presos, com fortunas na casa dos milhões de dólares. Contudo, nada justifica arriscar algo que você já tem por algo que você não tem e não precisa. Parece simples vendo hoje, mas o quanto é suficiente para nós?

Em relação às pirâmides financeiras, os fatores emocionais podem ser particularmente perigosos. Isso ocorre porque esses esquemas são projetados para explorar emoções e vieses cognitivos, atraindo pessoas com a promessa de ganhos rápidos e fáceis. E, à medida que mais e mais pessoas se juntam ao esquema, a pressão social pode aumentar, levando outras pessoas a também investirem, mesmo que seja contra o seu julgamento racional, a princípio.

Um dos vieses cognitivos que é bem relevante para as pirâmides financeiras é o de confirmação. Ele ocorre quando procuramos motivos que confirmem nossas crenças pré-existentes, ignorando informações que as contradizem. Quando alguém está sendo atraído para uma pirâmide financeira, essa pessoa pode buscar informações que confirmem as promessas de ganhos rápidos e fáceis, ignorando os sinais de alerta de que se trata de um esquema ilegal e insustentável.

Outro viés cognitivo que é relevante para esses casos é o efeito manada. Quando estamos em dúvida sobre uma decisão, muitas vezes seguimos a multidão sem avaliar de forma crítica as informações disponíveis.

Portanto, é importante avaliar criticamente todas as informações disponíveis. Casos recentes ocorreram no Brasil, com a Braiscompany e a Xland, empresa que conta com o jogador William Bigode como sócio. Essas companhias não têm autorização de funcionamento dos principais órgãos reguladores do país, o que já deveria servir de alerta, mas continuavam atuando livremente, prometendo ganhos inatingíveis aos seus clientes.

Por isso, meu conselho é: nunca acredite em retornos garantidos maiores do que uma taxa de juros básica pode pagar. Verifique se o produto é real ou fictício. E o mais importante: procure um profissional de finanças para te orientar.

 

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