Análise e Opinião

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Risco-País, Volatilidade e “Seguro calote”

Por
Fabrício Lima

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No dia 1 de março de 2024 o Plano Real completou 30 anos. Através da URV (Unidade Real de Valor), foi preparado o terreno para a criação do Real, moeda que pôs fim há décadas de hiperinflação. Os economistas André Lara Resende e Pérsio Arida inventaram a moeda fictícia URV. Edmar Bacha e Gustavo Franco implementaram o tripé macroeconômico de câmbio flutuante, superavit primário e meta de inflação. Os brasileiros que tinham passado por planos econômicos desastrosos como congelamento de preços e confisco da poupança puderam finalmente respirar aliviados.

Desde então, não faltaram motivos para tirar o sono do investidor brasileiro. Posso citar alguns mais recentes: Impeachment (2016), “Joesley Day” (2017), greve dos caminhoneiros (2018), Pandemia (2020), crise energética na Europa (2021), guerra na Ucrânia (2022), colapso do Silicon Valley Bank, Signature Bank e First Republic (2023), guerra em Israel (2024), entre outros. Diante desses acontecimentos, como tomar uma boa decisão de investimentos enquanto todos os outros estão enlouquecendo? Uma personalidade bem calibrada – otimista quanto ao futuro, mas desconfiada em relação ao que pode impedir esse futuro de chegar – é vital.

Assim como um piloto de avião tem à sua disposição um computador de bordo para monitorar o consumo de combustível, a distância, tempo, velocidade, altitude, direção do vento, conversões e mais uma vasta quantidade de cálculos úteis à navegação, nós também temos valiosos indicadores que funcionam como um termômetro de risco e neste artigo vou explorar os três principais: EMBI+, VIX e CDS.

EMBI+

O EMBI+ (Emerging Markets Bond Index Plus) tem por finalidade auxiliar os investidores a compreender o risco de investir em países emergentes. Ele reflete o que chamamos de risco-país. Sua lógica está em estimar o desempenho diário dos títulos da dívida desses países em relação aos títulos do Tesouro dos Estados Unidos (considerados ativos “livre de risco”), demonstrando os retornos financeiros obtidos a cada dia por uma carteira selecionada de títulos.

O índice é calculado da seguinte forma: a cada 100 pontos no EMBI+, os títulos de determinado país deveriam render 1,00% (um por cento) a mais que os títulos emitidos pelo Tesouro americano. Essa diferença é o spread, ou o spread soberano (soberano, porque os devedores são os governos nacionais).Imagem1

 

Fonte:http://www.ipeadata.gov.br/ExibeSerie.aspx?serid=40940&module=M | Elaborado por @pilulacapital

De acordo com a imagem acima, podemos concluir que se os títulos americanos estiverem rendendo, por exemplo, 4,20% ao ano e notarmos que “o EMBI+ do Brasil” está na casa dos 210 pontos, significa que os títulos de renda fixa do Brasil necessitam oferecer pelo menos 6,30% (4,20% + 2,10%) para compensar o risco do investidor. Pelo histórico mais longo do gráfico, é notável que a situação de 2024 é muito menos arriscada do que em 2020, 2016, 2008, 2002,1998 e 1995.

VIX Index

O VIX (Chicago Board Options Exchange Volatility Index), também conhecido como índice do medo, é considerado o termômetro da aversão ao risco do mundo, pois mensura a volatilidade implícita do S&P 500, um dos principais índices de ações do mundo.

Seu cálculo foi desenvolvido para produzir uma medida da volatilidade esperada constante de 30 dias do mercado de ações dos EUA, derivada de preços médios de cotação em tempo real das opções de compra e venda do Índice S&P 500.

Suas principais características são: (i) mensurado pela volatilidade implícita das opções do S&P 500;(ii) quanto maior o VIX, maior a aversão ao risco dos investidores; (iii) não analisa o passado, mas sim, o risco futuro (volatilidade das opções para os próximos 30 dias no mercado americano.

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Fonte: https://www.investing.com/indices/volatility-s-p-500-historical-data |  Elaborado por @pilulacapital

De acordo com o gráfico acima, podemos notar que o índice do medo (VIX) encontra-se em patamares inferiores aos períodos de 2020, 2015, 2011, 2008 e 2002.

CDS Brazil

Credit Default Swap (CDS) é um contrato de derivativo financeiro que transfere o risco de crédito para uma contraparte em troca de um prêmio. Em outras palavras, os contratos de CDS servem como seguro contra a inadimplência de um devedor.

Durante o período do contrato, o comprador da proteção de crédito (comprador do CDS) faz pagamentos ao vendedor do swap (vendedor do CDS) até a data de vencimento do contrato. Em troca, o vendedor concorda em compensar o comprador por perdas em produtos cobertos decorrentes de um evento de crédito, bem como todos os pagamentos de juros que teriam sido pagos se o título atingisse sua data de vencimento.

Este tipo de contrato também é muito utilizado contra risco de calote de um país, portanto, quanto maior o CDS de um país, maior o seu risco país visto pelos investidores.

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Fonte: https://br.investing.com/rates-bonds/brazil-cds-5-years-usd-historical-data | Elaborado por @pilulacapital

Pela imagem anterior, podemos notar que o mercado financeiro atribui menor risco de calote ao Brasil em jan/24 do que em 2023, 2020, 2018, 2016 e 2009.

Lembre-se: “Investir consiste exatamente em uma coisa: dar atenção ao futuro. E como nenhum de nós é capaz de ter certeza sobre os acontecimentos futuros, o risco é algo inevitável.” Espero que esse artigo tenha trazido conforto suficiente para que possamos seguir em frente nessa desafiante e deliciosa jornada de investimentos!

Este artigo tem como objetivo democratizar o acesso à educação financeira e foi elaborado por Fabrício de Lima, sócio e assessor de investimentos na Valor, especialista em Investimentos e Private Banking (IBMEC) com MBA em Gestão e Engenharia da Qualidade (USP). É engenheiro (UFV) e empresário.

 

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