Análise e Opinião

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[Economia de Guerra] É possível escolher entre saúde e economia?

Por
Thiago Goulart

Há um falso maniqueísmo entre Saúde e Economia. E a sociedade, mais uma vez, caiu nesta questão no ano de 2020. Não dá para separar um e outro, ambos se relacionam diretamente. Diante do cenário que nos é apresentado no momento em que escrevemos este texto, nos parece fundamental esclarecer esta questão.  

Primeiro, é preciso destacar que vivenciamos uma economia de guerra.

Economia de Guerra na Pandemia  

Epidemias e guerras, como já escreveu o autor de ‘A Peste’- Albert Camus -, sempre chegam de surpresa. E a batalha, agora, é contra a Covid-19.  

Nesta guerra, o inimigo não é um adversário palpável (exército/país estrangeiro), mas um microrganismo invisível. E os recursos em momentos como este são destinados à batalha que, neste caso, é contra a pandemia.  

Você já ouviu falar no conceito de “economia de guerra”? Chamamos assim as medidas econômicas praticadas em momentos de crise nacional ou mundial. Estas práticas tem como objetivo a estabilização da economia e da sociedade durante um período turbulento e crítico, como em uma guerra.   

Na economia de guerra os governos aumentam enormemente os seus gastos, e na guerra contra um vírus isto não seria diferente. Em uma guerra armada, estes recursos seriam destinados para o armamento militar e para proteção da sociedade civil. Na pandemia, os recursos foram destinados para a saúde e para manutenção do equilíbrio econômico.  

Mas não basta que recursos financeiros sejam destinados para os serviços de saúde. Na economia de guerra, o principal é saber como e onde empenhar tais recursos. É de suma importância a ação rápida e estratégica em um período de crise. Tudo isto está acontecendo neste momento e no mundo todo.   

Estamos dizendo tudo isto pra que você perceba, caro leitor, o quanto é vital para o bem-estar social que a economia esteja equilibrada. Isto é, para propiciar este equilíbrio, os governos tem usado suas reservas para injetar dinheiro em diversos setores. Em resumo, não existe saúde sem dinheiro em tempos normais, imagine então numa pandemia. Logo, não há como escolher entre saúde e economia. Ambas são diretamente afetadas pela pandemia e influenciam uma a outra.  

Saúde e economia andam juntas!   

Um exemplo evidente de que a economia e a saúde andam juntas está expresso no pacote emergencial de R$ 147,3 bilhões. Este pacote foi anunciado em meados de março do ano de 2020 pelo ministro da Economia, Paulo Guedes.  

O trajeto do pacote econômico contra-ataca duas frentes e, novamente, não há maniqueísmo, mas complementaridade:   

  1. Proteção aos mais vulneráveis;   
  1. Manutenção dos empregos.  

Uma parte desta verba terá como destino a injeção de recursos na economia. Já a outra servirá para o diferimento do pagamento de impostos e compromissos dos próximos meses. Tal medida servirá como uma descompressão do mercado.    

Quanto à população mais vulnerável, o governo deve usar um “fast track” – mecanismos de flexibilização / agilizar processos – para reduzir a fila de pessoas que aguardam inclusão no programa Bolsa Família.  

Em relação à manutenção dos empregos, o diferimento do FGTS  ajuda as empresas que estão sem capital de giro e não é correto exigir que elas continuem pagando.  

Todas estas medidas visam minimizar as consequências econômicas da pandemia. Isto é, uma crise na saúde pública requer soluções elaboradas também pela economia pública e privada. Os problemas causados pelo vírus não se limitam ao campo da saúde, mas o ultrapassam. Óbvio, não?!  

Como argumentou o ex-ministro Nelson Teich 

“Saúde e economia não competem, elas são completamente complementares. Quando você polariza uma coisa dessas, você começa a tratar como se fosse pessoas versus dinheiro, bem versus mal, empregos versus pessoas doentes. E não é nada disso”  

A Saúde não tem preço, mas tem custos!  

Aqueles que ignoram o impacto econômico da pandemia e compartilham do maniqueísmo, ignoram, portanto, que a saúde está inserida no mercado. Os aparelhos usados, os instrumentos de trabalho dos médicos, os serviços prestados… tudo isto custa dinheiro. Somente com uma economia saudável é que a saúde pode permanecer acessível para todos. É por isso que estes dois pilares da sociedade de bem-estar social não podem ser interpretados separadamente.   

O governo vai direcionar R$ 4,5 bilhões que estão no fundo DPVAT, por exemplo, para reforçar o orçamento do SUS. Isso permitirá a duplicação dos recursos direcionados ao Ministério da Saúde para enfrentar a crise do corona vírus.  

Aliás, o governo também reduziu à zero o Imposto de Importação de 67 produtos de uso médico hospitalar. Da mesma forma, os produtos importados para combater os efeitos da doença também serão desonerados do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).   

O papel atuante do Banco Central  

O Banco Central anunciou uma nova rodada de medidas que aumenta para R$ 1,2 trilhão o volume de recursos injetados no sistema bancário. E libera, ainda, R$ 102 bilhões em requerimento de capital das instituições financeiras.  

O pacote visa manter o fluxo de crédito no sistema bancário para da crise do novo corona vírus. Como proporção do PIB, o pacote representa quase cinco vezes o que foi implantado na crise financeira de 2008 (um total de R$ 117 bilhões ou 3,5% do PIB). As medidas atuais representam 16,7% do PIB.  

O Banco Central aposta que o sistema financeiro será capaz de fazer com que a liquidez injetada chegue ao setor real da economia. A preocupação com a manutenção de altos índices de liquidez e a preservação de uma boa margem de capital está afetando as taxas cobradas pelos bancos.   

Esta é a principal barreira para que empréstimos cheguem a empresas e famílias, superando eventuais preocupações com o risco de crédito e o custo do dinheiro determinado pela taxa Selic.  

Outra aposta é que, nesse momento, essa injeção de liquidez tenha efeito mais forte nas taxas de juros e na disponibilidade de recursos do que uma eventual flexibilização monetária adicional.  

O FED segue a mesma linha, só que de forma mais robusta, agindo nos mercados de crédito para evitar que o aperto de liquidez se transforme em crise de solvência para as empresas.   

Esses esforços agressivos serão postos em prática nos setores público e privado para limitar a perde de empregos e de renda. Isto significa que, afinal, são as estratégicas econômicas que viabilizam o manuseio da crise provocada pelo vírus. Ou seja, não há saúde sem economia.  

federal reserve

Como a educação financeira pode te ajudar na crise econômica?  

Crises em geral, sobretudo as econômicas, dificilmente podem ser previstas com antecedência suficiente. Logo, é difícil estar preparado para um estado de economia de guerra como o que vivemos na pandemia. No entanto, é parte da educação financeira a criação de uma reserva de emergência para momentos como este.  

Mas, caso você não tenha tido o hábito de poupar recursos para uma reserva financeira até aqui, você pode começar organizando as suas finanças. Uma crise mundial financeira nem sempre é de todo algo negativo. Algumas vezes ela pode ser uma oportunidade para aprender novos repertórios em educação financeira.  

Após organizar suas finanças, o segundo passo é cortar gastos. Apesar de, aos poucos, o mundo estar lentamente voltando ao seu normal, a economia pode demorar mais tempo para se reerguer. Por isso, este é o momento de poupar recursos e alimentar, o quanto puder, a sua reserva de emergência.   

Mas, não precisamos ser pessimistas. Fique atento ao mercado pois se, por um lado, há uma baixa geral. Por outro, talvez seja uma oportunidade de comprar ativos estratégicos que podem se recuperar lá na frente. Acompanhe nosso site educativo e continue aperfeiçoando sua educação financeira.