Fim do homem soviético? Especial Rússia e Ucrânia: Carta aos Investidores MAR 2022
Ésquilo foi um dos três dramaturgos mais conhecidos da Grécia Antiga. Das 79 peças escritas, sete sobreviveram na atualidade. Conhecido como o pai da tragédia, o autor levantou um tema caro aos gregos e persistente na história: a desmedida como causa do próprio aniquilamento e a dificuldade da moderação nortear o destino humano.
Em uma delas, Os Persas, Ésquilo abordou a invasão persa da Grécia, ocorrida durante sua vida. Aliás, o conflito armado foi grande fonte de informação sobre este período da história grega. A guerra teve tamanha importância para os gregos e para Ésquilo que, na ocasião de sua morte (456 a.C.), seu epitáfio celebrava sua participação na vitória grega, e não seu sucesso como dramaturgo.
O embate entre Oriente e Ocidente é abordado numa atmosfera de pesadelo, premonizado por uma rainha. Diferentemente de outros textos gregos, a história não é mitológica, mas um fato histórico: a batalha de Salamina, ocorrida em 480 a.C., que marca o declínio persa nas chamadas Guerras Médicas.
O texto serve como gancho para olharmos o que está por trás do atual conflito armado.
Adaptar-se aos novos tempos. É lícito afirmar que o atual momento pode ser denominado como a Era do Imprevisto. O mundo do século 21 não é uma simples projeção ampliada do mundo do século 20. Apreender flagrantes da era contemporânea, traz um ponto de consenso: os conflitos armados sempre existiram e o que está em vigência entre Rússia e Ucrânia remonta e reorganiza a dinâmica econômica global na “fria guerra” entre Ocidente e Oriente.
Será o fim do homem soviético? Vladimir Putin, autocrata russo, cria uma narrativa que nos permite responder que não. Por outro lado, o livro Por dentro do Nevoeiro, de Guilherme Wisnik, faz um contraponto interessante: terá chegado a hora do declínio ocidental?
Percorrendo os quatro ciclos históricos de expansão dos mercados desde o mercantilismo – A) o genovês (séculos XV e XVI); B) o holandês (séculos XVI e VXII); C) o britânico (séculos XVIII e XIX); e o norte-americano (séculos XX e início do século XXI) – Wisnik anota que a fase financeira desses ciclos, que sempre sucede uma primeira fase produtiva, representa não só o apogeu, mas também o “conta do cisne” de um ciclo sistêmico, correspondendo o surgimento de um novo centro hegemônico que desloca o seu protagonismo rumo ao Oriente.
O historiador Reinhart Koselleck busca compreender esta Era do Imprevisto como um momento de transição. Segundo ele, o passado-presente e o presente passado já não têm fontes de movimento. O presente e o presente-futuro estão em aceleração crescente.
A simultaneidade de fatos econômicos, sociais e políticos assincrônicos provoca situações de conflito cujas tentativas de solução, quando comparadas com os tempos passados, são experimentados como aceleração ou, em outras palavras, como crise.
Toda grande transição se manifesta como crise.
Com esses desafios postos à mesa, o correto é não tomar atitudes precipitadas quando o assunto é promover mudanças nos portfólios com o intuito de antever o que está por vir. A melhor estratégia a seguir nesses momentos é ter caixa, se manter investido com uma boa diversificação na carteira, e manter a calma, inclusive visitando as páginas do dramaturgo Ésquilo.
Prometeu Acorrentado, outra peça do grego, traz uma boa lição nesta Era do Imprevisto ou neste período de transição:
[…] O único conselho útil nesta hora, por mais decepcionado que possas estar; conhece-te a ti mesmo, amigo, e adaptando-te aos duros fatos lança mão de novos modos.
Sabedoria pode-se aprender também com os Antigos.
Sumário
Indicadores financeiros de Fevereiro
Especial | Impactos do conflito entre Rússia e Ucrânia para os mercados e seus investimentos
1. O que ver no streaming para entender a guerra na Ucrânia;
2. Meninos de Zinco;
3. Desdobramentos e perspectivas do conflito;
4. Análise e contexto dos colunistas;
5. YouTube | Como ficam os investimentos?
De frente com o gestor | Wealth High Governance (WHG)
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Indicadores financeiros de Fevereiro
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Especial | Entenda tudo sobre os impactos do conflito entre Rússia e Ucrânia para os mercados e seus investimentos
Sim, a história da Rússia e da Ucrânia se entrelaçam até as próprias origens nacionais, no século IX. Não, Rússia e Ucrânia não são uma mesma nação, um mesmo país, uma mesma cultura.
Na manhã do último dia 24, o mundo ficou perplexo face ao retorno de um cenário trágico típico do século XX: Vladimir Putin, autocrata russo, enviava aviões, mísseis, tanques e tropas para invadir o território de um país livre e soberano, a Ucrânia.
Em mais de duas décadas de despotismo putiniano, sucederam-se da repressão aos chechenos à invasão e partição da Geórgia (2008); da anexação da Crimeia à ocupação de Donbass (2014); do virtual aniquilamento da liberdade de imprensa à supressão física de vozes opositoras (Anna Politkovskaya e Boris Nemtsov, para ficar em apenas dois exemplos).
O que ver no streaming para entender a guerra na Ucrânia
Disponível na Netflix, o documentário Winter on Fire: Ukraine’s Fight for Freedom, de Evgeny Afineevsky, registra no estilo do cinema direto a revolta popular batizada de Euromaidan a partir de seu epicentro na praça da Independência na capital Kiev, que levou à renúncia e ao exílio na Rússia do então presidente Viktor Yanukovych, que tentava inviabilizar o tratado atendendo aos humores de Putin.
O revisionismo retórico de Putin pode alçar os voos delirantes, mas jamais alterará os fatos históricos ou justificará o injustificável.
Meninos de Zinco
A guerra soviético-afegã é retratada neste livro, com o olhar preciso da escritora ucraniana e prêmio Nobel, Svetlana Aleksiévitch.
Entre 1979 e 1989, as tropas soviéticas se envolveram em uma guerra devastadora no Afeganistão, que causou milhares de baixas em ambos os lados. Enquanto a URSS falava de uma missão de “manutenção da paz”, levas e levas de mortos eram enviadas de volta para casa em caixões de zinco lacrados.
Este livro apresenta os testemunhos de soldados, médicos, enfermeiras, mães, esposas e irmãos que descrevem os efeitos duradouros da guerra.
Ver o livro | Meninos de Zinco.
Rússia x Ucrânia: desdobramentos e perspectivas do conflito
Onde investir em meio ao conflito geopolítico? Nesse relatório da Research XP, publicado em conjunto pelas equipes de análise Macro, Política, Estratégia e Setorial, iremos discutir quais os impactos esperados para a economia no Brasil e mundial, os principais setores impactados e qual a melhor estratégia para seguir em sua carteira de investimentos, para se proteger da maior volatilidade do mercado.
Como o conflito e as sanções podem impactar a economia global? As sanções devem levar ao enfraquecimento da economia Russa, e consequentemente de outros países também, principalmente na Europa. Além disso, a disparada nos preços das commodities, pelo medo de impacto na oferta, pode levar a um risco maior de “Estagflação” no mundo – ou seja, desaceleração econômica aliada a uma inflação maior e mais resiliente.
Maior fluxo esperado ao Brasil: a Rússia atualmente detinha 1,45% de participação no ETF de Mercados Emergentes (EEM), enquanto o Brasil tem uma participação de 4,94%, segundo dados da Bloomberg. Assim sendo, o Brasil poderá seguir recebendo fluxos de investidores de Mercados Emergentes que diminuem a sua exposição à Rússia. Em 2022 até agora, a Bolsa brasileira já recebeu mais de R$ 62 bilhões de fluxo de investidores estrangeiros, mais da metade dos R$102 bilhões que ingressaram durante todo o ano de 2021.
O que pode acontecer com a economia brasileira caso o conflito na Ucrânia seja prolongado? O impacto direto da crise no Brasil tende a ser limitado às importações de fertilizantes (23% dos fertilizantes importados pelo Brasil são oriundos da região onde ocorre o conflito militar), dado que o fluxo de comércio de outros produtos com Rússia e Ucrânia é bastante limitado. No entanto, o impacto indireto via preços de commodities, inflação e problemas nas cadeias globais de produção pode ser elevado.
Os preços das commodities estão no centro das atenções devido ao conflito em curso, e quando olhamos para as commodities agrícolas, a perspectiva é bastante sensível. A questão principal é a oferta de milho e trigo, ambos importantes, e fertilizantes, provavelmente é a principal questão a ser rastreada. Outra questão frequente é a relevância da Rússia para as exportações de carnes do Brasil. A resposta é: quase nenhuma, já que a Rússia foi bem-sucedida no processo de se tornar autossuficiente em aves, suínos e bovinos.
Óleo, gás e metais: a Rússia é inegavelmente um dos atores mais importantes nos mercados globais de petróleo, sendo o 3º maior produtor mundial com 11% da produção global de petróleo, além do gás natural e outros energéticos. Já a Ucrânia é um importante exportador de metais não ferrosos e produtos agrícolas. Portanto, se a tensão no leste europeu continuar aumentando, podemos esperar efeitos significativos sobre a oferta global de energia e metais, e os preços das commodities podem seguir com flutuações violentas. Comentamos os impactos nos principais papéis do setor.
A Bolsa brasileira vem se beneficiando de uma tríplice combinação de: 1) rotação global de crescimento para valor; 2) forte exposição a commodities; e 3) múltiplos de entrada muito baixos, e mais recentemente, de fluxos saindo da Rússia e migrando para outros Emergentes, como o Brasil. Dessa forma, esperamos uma revisão para cima nas estimativas de Lucro do consenso, pelo maior preço das commodities, e fluxos de investidores estrangeiros seguindo elevados. Mantemos o nosso valor justo de 123,000 pontos para o Ibovespa, que depende principalmente dos Lucros das empresas e das taxas de juros reais de longo prazo.
Análise e contexto dos colunistas
Bruno Hamú | Guerra, commodities e seus investimentos
Luiz Alberto Caser | Juros, câmbio, Estados Unidos e Brasil
Pedro Lang | Conflito entre Rússia e Ucrânia vai elevar os juros
Flavio Mattedi | Tanques a postos e a defesa da renda fixa
YouTube | Como ficam os investimentos?
Quais os impactos do recente conflito entre Rússia e Ucrânia para os mercados? No vídeo abaixo, o editor-chefe da VAI Investir, Thiago Goulart, traz os principais reflexos da guerra nos investimentos realizados no Brasil e nos Estados Unidos. Confira!
De frente com o gestor | Wealth High Governance (WHG)
Recebemos a visita de Tony Volpon (Ex-diretor do Banco Central e Estrategista-chefe da WHG) e Vitor Paulino (gestor de ações globais da WHG). A Wealth High Governance (WHG), cujo foco são os mercados globais tem fundos disponíveis na plataforma da XP.
O bate-papo ficou por conta de temas:
» Cenários: bolsa brasileira e americana;
» China: visão macro;
» Big Techs;
» Estratégia e visão do time WHG.
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Um abraço,
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