Análise e Opinião

Análise e Opinião

Goal-Based Investing (GBI) e a construção do portfólio de investimentos

Por
Dyogo L’amour

O que é Goal-Based Investing?

O Goal-based Investing – GBI (ou investimentos orientados por objetivos ou metas) é um conceito amplo de estratégia de gestão patrimonial, com a finalidade de direcionar os esforços e alocações de ativos para o alcance dos objetivos pessoais dos investidores.

O GBI fornece todo o suporte necessário para a criação de um portfólio de investimentos orientado e delimitado para cada objetivo financeiro do investidor.

Chhabra e o GBI

Existem diversas formas de aplicação ou execução desse conceito trazido pelo GBI, entretanto a abordagem clássica ou a “mais famosa” é fundamentada no artigo “Beyond Markowitz: A comprehensive Wealth Allocation Framework for Individual Investors”, publicado pelo Ashvin B. Chhabra, autor do livro “The Aspirational Investor: Taming the Markets to Achieve Your Life’s Goals”.

O que propõe Chhabra?

Chhabra propõe um modelo de trabalho que ele chama de Wealth Allocation Framework (modelo ou estrutura de alocação de riqueza/patrimônio) que auxilia os investidores a construírem um portfólio que engloba todos os seus ativos: casa, hipoteca, investimentos, capital humano, etc.

Essa alocação resulta em portfólios que visam atingir os objetivos, necessidades específicas do cliente e protegê-lo do risco pessoal, de mercado e aspiracional. O autor ainda ressalta que o modelo pretende unir a Teoria Moderna de Portfólio com certos aspectos das Finanças Comportamentais.

Qual a principal “sacada”do artigo de Chhabra?

A principal conclusão do artigo é que, para o investidor individual, a alocação de risco deve preceder a alocação de ativos e o risco pessoal é uma dimensão adicional que deve ser levada em conta para construção de portfólios individuais.

Com base nesses levantamentos, Chhabra apresenta um modelo para o investidor individual que leva em consideração que as pessoas aspiram por maior riqueza e segurança e estão dispostas a tomar riscos para elevar seu patamar de vida, mas ao mesmo tempo não querem perder o seu patamar atual.

Dessa forma,  os investidores individuais possuem vários, e às vezes conflitantes, objetivos e restrições.

Como se apresenta o modelo proposto por Chhabra?

Nesse modelo, o portfólio para o investidor individual é baseado em três tipos de riscos, que Chhabra separa em 3 “potes” ou “baldes” diferentes e para cada risco o investidor deve ter propósitos, expectativas de retornos e benchmarks diferentes, são eles:

1 – Risco Pessoal: Visa oferecer segurança para o investidor, protegendo-o contra a pobreza (risco de ruína) , reduzindo o risco de perdas e estando disposto a aceitar retornos abaixo do mercado e proteção contra a inflação para a redução desse risco.  Aqui se encaixam os seguintes tipos de ativos: casa própria, títulos públicos, ouro, seguros, capital humano, reserva de emergência entre outros.

2- Risco de Mercado: Objetiva manter e preservar o padrão de vida do investidor buscando rentabilidade real no mercado. Os ativos alocados para esse risco são: ações, renda fixa com diversificação de crédito e duration, fundos multimercados, commodities e reserva de oportunidade.

3- Risco Aspiracional: Pretende possibilitar a “virada de chave”, a mudança de patamar financeiro na vida do cliente. Aqui temos uma tomada significativa de riscos para potencializar os retornos e obter rentabilidade acima do mercado. Tipos de ativos alocados para esse risco: Ativos imobiliários, negócios (empreender), opções, investimentos alternativos, private equity.

1 imagem

Conclusões de Chhabra e a afinidade com os conceitos da “Estratégia Barbell”

Vale mencionar que os tipos de riscos citados no artigo do Chhabra tem afinidade direta com os conceitos da teoria da “Barbell Strategy” trazidos pelo escritor e matemático Nassim Taleb em seu livro “Antifrágil: Coisas que se beneficiam com o caos” e “Arriscando a própria pele: Assimetrias ocultas no cotidiano” , uma vez que combina em uma ponta do portfólio a segurança e proteção nos investimentos com a agressividade do risco aspiracional da ponta oposta.

Imagem2

 O goal-based investing se adequa a realidade do investidor individual, tornando seus objetivos mais factíveis e de fácil visualização, estimulando-o, na medida que obtém êxito em suas metas, para objetivos cada vez maiores e de longo prazo.

É interessante notar a mudança de paradigma que esse modelo propõe, uma vez que paramos de focar todos os esforços apenas visando superar o benchmark, que na maioria das vezes isso não gera entendimento ou valor diretamente ao investidor, mas começamos a focar em atingir os objetivos pessoais do investidor e da sua família, já que isso é palpável e fácil de ser entendido.

Em outras palavras, o foco passa a não ser mais somente a rentabilidade, e sim na geração de valor para a jornada do investidor na questão comportamental e na construção de uma relação de confiança no longo prazo com seu consultor/assessor de investimentos.

Essa nova visão trazida pelo Goal-Based Investing auxilia na “gameficação” do processo de investimentos, uma vez que você simula cenários futuros em conjunto com o seu consultor/assessor e consegue corrigir previamente, vieses comportamentais e cognitivos na tomada de decisão.

Dessa forma, constrói-se  um sentimento de satisfação em consequência do alcance dos seus objetivos, com impacto positivo na disciplina de poupar e consequentemente, um maior engajamento no planejamento financeiro traçado em conjunto com seu consultor/assessor  financeiro.

banner abra sua conta

Deixe um comentário