Análise e Opinião

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IPCA em queda. Hora de comemorar?

Por
Rafael Ostronoff

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A velha máxima diz que é fácil ganhar dinheiro no mercado financeiro. Basta comprar na baixa e vender na alta. Pois bem… Se é assim, por que não estamos todos ricos?

Vamos analisar o cenário atual um pouco… O último levantamento mensal do IPCA divulgado pelo IBGE mostra uma redução do índice acumulado de 12 meses para 4,65%aa e a consequente convergência do índice à meta de inflação. Os mais desavisados podem ter a impressão de que o pior já passou e que a festa vai começar, porém essa percepção é um pouco perigosa pois estamos no período em que, no ano passado, foram registrados os picos da inflação.

Ou seja, matematicamente, estão saindo da conta do acumulado os meses de pico de 2022 (Fevereiro +1,01%, Março +1,62% e Abril +1,06% estimado) para entrar na conta os meses de 2023 (Fevereiro +0,84%, e Março +0,71%). Os índices mensais de 2023 são de fato mais baixos e estão reduzindo a média por um efeito puramente matemático. Mas ainda são números ruins. Se considerarmos apenas esses meses (jan-23 a mar-23) para uma estimativa média anual de inflação, teríamos como resultado uma inflação anual de 8,30%, ou seja, altíssima ao fim de 2023. Adicione-se a essa conta o fato de que nos meses de julho a setembro do ano passado tivemos deflação.

Dessa forma, ficamos reféns de repetir esses resultados deflacionários se não quisermos ver um aumento rápido da inflação acumulada para 2023. Resumindo, o índice do mês deflacionário que favorece a média e derruba o IPCA atual será substituído por um número inflacionário maior, empurrando o IPCA escada acima. Por causa desses desvios de média a medida de inflação sozinha não deve ser parâmetro de política monetária nem criar expectativas de quedas de juros, já que sua causa são os efeitos extraordinários da economia brasileira. O paciente ainda está doente, mas o termômetro está descalibrado.

Mas é nas distorções do mercado que ganhamos dinheiro. RCN, presidente do Banco Central já deu todos os sinais de que deve perseguir a meta de inflação contratada e para isso deve buscar um resultado de 0,26% ao mês de inflação até o fim do ano.

Se olharmos para o IPCA de Março (0,71%) sob essa nova visão, veremos que há muito pouco a se comemorar e que tanto uma queda forçada na taxa Selic quanto a disparada da bolsa são eventos de alto risco, pois carecem de fundamento macroeconômico (não há sinais de afrouxamento monetário). Isso faz desse momento uma excelente hora para aproveitar as distorções do mercado brasileiro e correr atras do melhor investimento, perceber o modus operandi do Bacen e ir atrás das ofertas a fim de encher o carrinho com os títulos corretos.

É a hora da xepa na feira livre do mercado de capitais. Nessas horas é que podemos usufruir da estratégia de se manter uma carteira de investimentos defensiva com uma reserva de liquidez para aproveitar distorções do mercado. Ter uma carteira com um risco controlado dentro do seu perfil de investidor e aproveitar os momentos de distorção para pegar prêmios maiores é uma estratégia que demanda paciência, mas paga seu valor. E com o cenário de um governo gastador forçando uma queda de braço com a autoridade monetária sobre política de juros, os títulos que paguam inflação acrescidos de um cupom pré podem ser uma escolha bem interessante, apresentando uma opção de risco menor que a renda variável.

Lembra da máxima que abre esse texto? Compre na baixa e venda na alta? O que não te contaram foi a frase completa. Compre quando o risco é baixo e venda quando o risco ficar alto.

 

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