Análise e Opinião

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Para onde vai o dólar? O que de fato influencia seu preço?

Por
Thiago Valencia

artigo dolar

O câmbio é um dos indicadores econômicos mais sensíveis e imprevisíveis, especialmente para economias emergentes como a brasileira. Nos últimos anos, o valor do dólar frente ao real tem sido marcado por oscilações significativas, influenciadas por uma combinação de fatores internos e externos. Este artigo busca analisar as principais variáveis que impactam o preço do dólar no Brasil e discutir as perspectivas para o futuro próximo.

O Real e o Dólar: Uma Relação Histórica

Na implementação do Plano Real em 1994, ele foi lançado com uma paridade de 1:1 perante o dólar. O Brasil também adotou uma política de bandas cambiais que durou até 1999. No final dos anos 90, várias crises financeiras emergentes ocorreram, como a crise asiática (1997) e a crise russa (1998), que reduziram o apetite global por risco.

O Brasil, com déficit em conta corrente relativamente alto, se tornou alvo de investidores que antecipavam desvalorização do real. Investidores apostaram contra o real, vendendo contratos futuros de dólares e pressionando a moeda local. O Banco Central tentou defender o real, usando reservas internacionais e aumentando juros, mas o volume de capital especulativo era maior do que o estoque de reservas.

Mudança para câmbio flutuante

Em 13 de janeiro de 1999, o governo teve que abandonar o sistema de bandas, pois ficou sem reservas e não conseguia mais segurar o câmbio. Então passou a adotar o regime de câmbio flutuante, que na verdade é chamada de flutuação suja, pois o Banco central intervém, fazendo o swap cambial, vendendo dólar para frear uma alta da moeda.

Desde seu lançamento o real oscilou muito, chegando próximo de R$0,80 e recentemente a R$6,20. Mas o que faz com que o real oscile tanto perante o dólar?

Fatores que Influenciam o Preço do Dólar

  1. Diferencial de Inflação

O diferencial de inflação entre Brasil e Estados Unidos é um dos principais determinantes do valor do câmbio. A inflação brasileira é historicamente superior à americana, por isso o real tende a se desvalorizar frente ao dólar, uma vez que os produtos brasileiros se tornam relativamente mais caros no mercado internacional, reduzindo a competitividade das exportações brasileiras. A inflação alta no Brasil corrói o poder de compra da moeda local, tornando-a menos valiosa para a compra de bens e serviços tanto internamente quanto externamente.

  1. Taxas de Juros

As políticas monetárias dos dois países desempenham um papel crucial na determinação do câmbio. Taxas de juros reais mais altas no Brasil atraem investidores estrangeiros em busca de retornos mais elevados, aumentando a demanda por reais e, consequentemente, valorizando a moeda brasileira. Por outro lado, taxas de juros reais mais altas nos Estados Unidos podem ter o efeito oposto, atraindo investimentos para o mercado americano e pressionando o real para baixo.

  1. Fluxo de Comércio Exterior

O superávit ou déficit comercial de um país influencia diretamente a oferta e demanda por sua moeda. Um superávit comercial, caracterizado por exportações superiores às importações, resulta em uma maior entrada de moeda estrangeira, valorizando a moeda local. No caso do Brasil, a exportação de commodities como soja, minério de ferro e petróleo é fundamental para a geração de divisas. Esse em questão foi o principal fator da queda do dólar na década de 2000, que foi o auge do boom das commodities (soja, minério, petróleo, entre outros), muito impulsionado pela China.

  1. Expectativas de Mercado

O mercado cambial é altamente sensível às expectativas dos investidores. Fatores como estabilidade política, previsibilidade econômica e confiança nas políticas do governo influenciam as decisões de investimento e, por conseguinte, o valor do câmbio. Incertezas políticas ou econômicas podem levar a uma fuga de capitais, desvalorizando a moeda local.

  1. Política Monetária do Federal Reserve

As decisões do Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, têm impacto global. Exemplo disso foi a recente declaração que Jerome Powell fez em Jackson Hole, que animou os mercados financeiros ao redor do mundo. Disse o seguinte: “Nossa taxa básica de juros está agora 100 pontos-base mais próxima do neutro do que há um ano, e a estabilidade da taxa de emprego e outras medidas do mercado de trabalho nos permite prosseguir com cautela ao considerarmos mudanças em nossa postura. No entanto, com a política (monetária) em território restritivo, a perspectiva básica e a mudança no equilíbrio de riscos podem justificar ajustes em nossa postura”.

Isso gerou expectativas de possíveis cortes nas taxas de juros americanas, que reduz a atratividade dos investimentos nos EUA e favorece mercados emergentes, como o Brasil, pois os investidores vão buscar mais riscos, atrás de retornos maiores, resultando em uma valorização do real frente ao dólar.

O mercado financeiro trabalha com expectativas e sempre se antecipa. Por isso, após esse comunicado, imediatamente bolsas do mundo todo subiram, inclusive aqui. Os yields dos títulos americanos, principalmente de curto prazo caíram, assim como o DI futuro aqui no Brasil. E o DXY, índice do dólar versus uma cesta de moedas globais, também teve uma forte desvalorização. Aqui no Brasil o contrato de dólar futuro desvalorizou 0,88%.

O Impacto do Dólar na Economia Brasileira

O valor do dólar tem implicações diretas na economia brasileira. Ele afeta tanto os produtos importados, como insumos industriais e os preços das commodities que são cotadas em bolsa e sofrem variação cambial, como café, cacau, soja, milho, trigo, arroz, algodão, petróleo, entre outros. Um exemplo recente foi a alta do café em um período em que o dólar também se apreciava, isso fez com que o preço do café que consumimos explodisse.

Além disso, o dólar influencia o custo da dívida externa brasileira, uma vez que parte significativa da dívida do país está denominada em moeda estrangeira. Isso significa que, para pagar o mesmo montante em dólares, o governo precisa usar mais reais, aumentando assim o custo total da dívida e a pressão sobre as finanças públicas.

Um estudo realizado pela FGV, indica que o dólar impacta entre 16% e 18% na cesta do IPCA (índice de inflação oficial do governo, medido pelo IBGE, nas principais regiões metropolitanas do Brasil, entre famílias que ganham até 40 salários-mínimos, numa cesta de aproximadamente 400 produtos). Isso também mostra que variações no câmbio podem ter efeitos significativos no poder de compra da população.

Perspectivas para o Dólar: R$ 7,00 ou R$ 5,00?

A previsão do comportamento do dólar no curto prazo é um desafio, dada a complexidade dos fatores envolvidos. Dizem que ele surgiu para desmoralizar os economistas.Porém no curto prazo, mesmo com as tensões políticas internas e os gastos descontrolados do governo brasileiro, o dólar pode continuar a cair devido a uma combinação de fatores externos, que inclui expectativas de corte nas taxas de juros americanas e o trabalho que o governo Trump tem feito para desvalorizar o dólar frente outras moedas globais, para favorecer a indústria americana.
No entanto, além dos desafios fiscais internos, as tensões comerciais internacionais e o momento geopolítico podem exercer pressões sobre o câmbio, levando a uma desvalorização do real.

O comportamento do dólar frente ao real é influenciado por uma série de fatores interligados, que tornam a previsão de seu valor uma tarefa complexa. Embora fatores como o diferencial de inflação e as políticas monetárias desempenhem papéis significativos, eventos inesperados podem alterar rapidamente o cenário cambial. Para investidores e cidadãos, é fundamental acompanhar de perto os desenvolvimentos econômicos e políticos, mantendo uma estratégia financeira flexível que permita adaptar-se às mudanças no ambiente cambial.

Porém, o dólar caro é aquele que você não tem na sua carteira de investimentos. Não tente acertar o fundo. O mais importante, e que gera mais resultados, é a constância. Então compre constantemente, para fazer um preço médio e manter sempre parte da sua carteira dolarizada.

 

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