Gostamos de pensar que somos seres lógicos, e que nossas decisões são tomadas com base no que é mais benéfico e menos arriscado possível, principalmente se tratando de nossos investimentos. Porém, não é sempre assim.
Na prática, nossas escolhas nem sempre seguem a lógica da economia tradicional, e constantemente tomamos decisões “irracionais”, que podem ser explicadas pelo efeito de disposição, efeito de reflexão e aversão à perda. Esses termos de tratam de vieses cognitivos, pois são tendências humanas, e não atitudes racionais.
Essas teses dizem respeito à propensão de as pessoas serem avessas ao risco com relação aos ganhos obtidos, mas propensas a correr riscos quando tratam de suas perdas. No contexto de investimentos, isso significa que somos inclinados a vender nossos ativos vencedores, mas segurar aplicações cujo valor continua a cair.
A lógica da economia sugere que faríamos o contrário, pois em média, ações que apresentam resultados positivos tendem a manter esta tendência de valorização, e vice-versa.
No entanto, vendemos ações após poucos ganhos, nas quais poderíamos ganhar mais, e nos prendemos a ativos cujo valor cai continuamente, na esperança de que seu preço retorne a nosso ponto de referência – o valor que compramos – ou o ultrapasse.
Ocorre que não há nada de especial ou determinante sobre o preço que pagamos no ativo, a não ser para o investidor e sua sensação de perda. Ficamos em posição risco, podendo perder cada vez mais do que já perdemos.
O efeito de reflexão explica isso: nosso cérebro entende um prejuízo como uma dor muito maior do que um ganho de mesmo valor, e fazemos de tudo para evitar que este se concretize, na venda da ação por um preço menor do que o valor de compra. Adiando a dor da perda buscamos um conforto que nos é muito mais atraente do que admitir o prejuízo.
“Muitos clientes não vêm nada como uma perda. Eles não querem renunciar à esperança de fazer mais dinheiro em um investimento específico, ou talvez queiram ficar empatados antes de saírem da posição. Essa “doença dos empatadores” provavelmente causou mais destruição em portifólios de investimentos do que qualquer coisa…” (Leroy Gross (1982), The Art of Selling Intangibles (a manual for stockbrokers)
No caso de um jogo, por exemplo, de cara ou coroa, onde as opções são: ganhar dois mil reais ou perder mil reais, a grande maioria das pessoas escolhe não jogar. Isso reflete nossa aversão ao risco; mesmo que o valor intrínseco do jogo seja positivo, nossa resposta negativa à possível perda é maior do que nossa resposta positiva ao possível lucro.
Na prática, além de isso resultar na possibilidade de perder mais dinheiro, o investidor encara o custo de oportunidade, pois este dinheiro poderia ser usado em investimentos mais benéficos, em vez de preso em ativos em queda.
Portanto, se atente a este viés na hora de tomar decisões com relação a investimentos; se manter em posições lucrativas e sair de posições perdedoras, ao invés de se entregar a essas armadilhas de lógica.
Este artigo tem como objetivo democratizar o acesso à educação financeira via Gabriela Cremonez Sofia, assessora de Investimentos da Valor Investimentos.