Análise e Opinião

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A Influência da Gestão Fiscal no Mercado de Juros Futuros

Por
João Victor Musso

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A gestão fiscal desempenha um papel crucial na economia de qualquer país, influenciando diretamente os mercados financeiros e, por consequência, as taxas de juros. No Brasil, as políticas fiscais adotadas pelo governo têm sido frequentemente objeto de escrutínio e debate, especialmente em relação ao seu impacto nas taxas de juros futuras.

Este artigo visa analisar a relação entre a gestão fiscal do governo e a abertura da curva de juros futuros no mês passado no Brasil, destacando como decisões fiscais podem afetar as expectativas dos investidores e, por consequência, os preços dos ativos financeiros.

Nos últimos anos, o Brasil enfrentou desafios significativos em termos de gestão fiscal, com déficits orçamentários persistentes, aumento da dívida pública e incertezas políticas. Esses fatores têm contribuído para um ambiente de volatilidade nos mercados financeiros, especialmente no mercado de renda fixa, onde as taxas de juros são sensíveis às perspectivas fiscais do país.

Qual impacto da Gestão Fiscal na Curva de Juros Futuros?

A gestão fiscal desempenha um papel fundamental na determinação das taxas de juros futuras, uma vez que influencia diretamente as expectativas dos investidores em relação ao futuro da economia. Quando os investidores percebem que a política fiscal do governo é equivocada, aumenta a incerteza em relação ao pagamento da dívida pública e à sustentabilidade das finanças do país. Isso pode levar a uma elevação das taxas de juros futuros, à medida que os investidores demandam prêmios de risco mais elevados para compensar o aumento da incerteza.

Percebam como se comportaram as taxas de juros em abril, na imagem abaixo:

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Em janeiro a curva se estabilizava em 10,4% para os mesmos 10 anos. Mas João, qual o impacto de “apenas” 1% a mais nessa taxa futura? Alguns pontos que identifico:

  1. Custo de financiamento: Para os tomadores de empréstimos e credores, um aumento de 1% na taxa de juros futura significa que o custo de tomar empréstimos ou financiar investimentos aumentará. Isso pode desencorajar o investimento e o consumo, pois os empréstimos se tornam mais caros.
  2. Expectativas de inflação: Um aumento nas taxas de juros futuras pode indicar que os investidores estão preocupados com a inflação no futuro. Isso pode levar o banco central a aumentar as taxas de juros de curto prazo para conter a inflação esperada.
  3. Rendimento de investimentos: Para os investidores, um aumento de 1% na taxa de juros futura significa que os retornos potenciais de investimentos de renda fixa, como títulos do governo, também aumentam. Isso pode atrair investidores para esses ativos, desencadeando uma venda de ações e outros ativos de maior risco.
  4. Impacto sobre o crescimento econômico: Taxas de juros mais altas tendem a desacelerar o crescimento econômico, pois encarecem o crédito e reduzem o consumo e o investimento. Um aumento de 1% na taxa de juros futura pode levar a uma desaceleração adicional da atividade econômica, especialmente se for parte de uma série de aumentos de taxas.
  5. Valor presente de fluxos de caixa futuros: Para projetos de investimento de longo prazo, como projetos de infraestrutura ou expansão empresarial, um aumento de 1% na taxa de juros futura pode reduzir o valor presente dos fluxos de caixa futuros desses projetos. Isso pode tornar projetos anteriormente viáveis menos atrativos ou até mesmo inviáveis.

Em resumo, um aumento de 1% na taxa de juros futura pode ter uma série de implicações econômicas e financeiras, afetando desde o custo do crédito até o comportamento dos investidores e o crescimento econômico.

Hoje enxergamos prêmios maiores, mesmo com uma taxa de juros mais baixa que meses anteriores, ao mesmo tempo que isso é bom para o investidor, preocupa no contexto econômico de longo prazo do país.

Além disso, a volatilidade política e os desafios institucionais também contribuíram para a abertura da curva de juros futuros. A instabilidade política minou a confiança dos investidores na capacidade do governo de implementar reformas fiscais necessárias para estabilizar as finanças públicas, aumentando ainda mais as preocupações em relação ao cenário fiscal do país.

A falta de disciplina fiscal e a incapacidade do governo de implementar reformas necessárias podem gerar incertezas nos mercados financeiros, levando a uma abertura na curva de juros futuros e a custos mais elevados de financiamento para o governo e o setor privado.

Diante disso, é fundamental que o governo adote políticas fiscais responsáveis e transparentes, buscando consolidar as finanças públicas e restaurar a confiança dos investidores. Somente através de uma gestão fiscal sólida e previsível será possível garantir uma maior estabilidade macroeconômica e promover o crescimento sustentável no Brasil.

 

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