A poucas semanas, o Banco Central anunciou a liquidação de duas empresas do setor financeiro, a BRK Financeira e a Portocred, alegando:
“… graves violações às normas legais que regulamentam o funcionamento da instituição e o risco anormal a que estão sujeitos os credores quirografários …”.
A divulgação da liquidação extrajudicial deixou muitos investidores preocupados em entender como reaver valores investidos.
Para que não conhece, a BRK Financeira é uma instituição financeira que atua no mercado de crédito para empresas de médio porte, crédito consignado, além de opções de investimentos.
Já a Portocred, é uma empresa que existe a mais de 25 anos (bastante tempo) e o seu forte era empréstimos para pessoas físicas e planos de seguros
Sem dúvida, essa é uma situação um tanto quanto ruim. Afinal de contas muitas pessoas estão sendo impactadas, funcionários e investidores.
E como ficam os investidores que compraram títulos dessas instituições? Era possível prever algo como o que aconteceu?
Existem dois indicadores mega importantes quando se trata de instituições financeiras, que são:
- o Índice de Basiléia e Índice de Imobilização.
Em resumo, o Índice de Basileia determina a relação entre o capital próprio da instituição e o capital de terceiros (captações) que será exposto a risco por meio da carteira de crédito. Por exemplo, se um banco possui Índice de Basiléia de 20%, significa que, para cada R$ 100,00 emprestados, o banco possui patrimônio de R$ 20.
O índice mínimo exigido pelo Banco Central do Brasil é 11%.
- Índice de Imobilização
Quanto mais reduzido for o Índice, maior agilidade terá o banco para usar seu patrimônio a fim de honrar seus compromissos. Por exemplo, se um banco possui Índice de Imobilização de 30%, significa que, a cada R$ 100,00 em seu patrimônio, R$ 30,00 estarão investidos em bens que não possuem uma liquidez imediata, ou seja, imobilizado em imóveis, veículos, materiais, etc.
O índice máximo tolerado pelo Banco Central do Brasil é 50%.
Veja como estavam ambos os índices para as duas financeiras, segundo o site Banco Data.
No caso da BRK Financeira
- Índice basileia 0,6%
Bem abaixo do recomendado pelo BC.
- Índice de imobilização de 71,6%
Do outro lado, índice extremamente acima do recomendado pelo BC que é no máxim 50% e imobilização.
Já em relação a Portocred
- Índice de Basileia de 4,3%, muito abaixo do mínimo exigido pelo BC.
- Índice de Imobilização de 23,1%
Mas e agora, quem tem títulos como CDB, LCI, LCA dessas empresas, o que acontece?
Bom, você já deve ter ouvido falar do FGC né, que é o Fundo Garantidor de Crédito.
O FGC é uma instituição sem fins lucrativos, mantida por instituições financeiras justamente para momentos como esse.
Casos como BRK e a Portocred não são isolados e provavelmente não serão os últimos, tivemos casos muito famosos no passado como, Bamerindus, Banco Santos, Banco Neon, entre outros.
Quando isso acontece é muito ruim para o mercado financeiro como um todo. Isso gera um impacto em quase todos os demais bancos, caso aconteça um problema de insolvência em um “Bancão”, imagina o impacto?
Justamente visando diminuir esse impacto no sistema financeiro, as instituições juntas mantêm o FGC de pé. O FGC funciona como uma espécie de socorre ao sistema financeiro nacional em momentos de turbulência.
Veja resumo de quais são os títulos cobertos pelo FGC:
Classes de ativos muito comuns como CRIs, CRAs, Debêntures e outros títulos que são emitidos por instituições não financeiras, não são cobertos pelo fundo. Por isso, muito cuidado com o rating e a avalição de crédito dessas companhias.
Outro ponto importante é que o FGC só protege até R$250 mil reais por CPF. Ou seja, caso o investidor possua um valor investido em um CDB de uma instituição liquidada pelo BC no valor de R$300 mil reais, o máximo que será garantido pelo FGC é o limite definido por CPF (R$250 mil reais).
Devemos respeitar o limite sempre, considerando não somente o valor aplicado mas também, o possível rendimento até o vencimento do título, sendo assim o principal somado o ganho de capital não devem ultrapassar o limite máximo.
Além disso, há o limite de 1 milhão a cada 4 anos por investidor, para o caso de problemas com instituições diferentes, a cada 4 anos esse saldo é atualizado novamente para o limite máximo.
É evidente que não podemos sair por aí investindo em qualquer ativo pensando apenas no retorno, tomando como base a proteção do FGC, com certeza poder contar com esse “seguro” é uma ótima ideia. Mas ela não pode ser ponte para a nossa falta de cuidado e critério na hora de investir.
Fica essa lição, cada vez mais o mercado mostrando que temos que ter cuidados com nosso patrimônio e cada vez mais aprofundar sobre os nossos ativos.
Espero que tenha ajudado, até a próxima.