Análise e Opinião

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Crise do crédito – Banco Central liquida instituições financeiras. E agora?

Por
Filipe Moreira

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A poucas semanas, o Banco Central anunciou a liquidação de duas empresas do setor financeiro, a BRK Financeira e a Portocred, alegando:

“… graves violações às normas legais que regulamentam o funcionamento da instituição e o risco anormal a que estão sujeitos os credores quirografários …”.

A divulgação da liquidação extrajudicial deixou muitos investidores preocupados em entender como reaver valores investidos.

Para que não conhece, a BRK Financeira é uma instituição financeira que atua no mercado de crédito para empresas de médio porte, crédito consignado, além de opções de investimentos.

Já a Portocred, é uma empresa que existe a mais de 25 anos (bastante tempo) e o seu forte era empréstimos para pessoas físicas e planos de seguros

Sem dúvida, essa é uma situação um tanto quanto ruim. Afinal de contas muitas pessoas estão sendo impactadas, funcionários e investidores.

E como ficam os investidores que compraram títulos dessas instituições? Era possível prever algo como o que aconteceu?

Existem dois indicadores mega importantes quando se trata de instituições financeiras, que são:

  • o Índice de Basiléia e Índice de Imobilização.

Em resumo, o Índice de Basileia determina a relação entre o capital próprio da instituição e o capital de terceiros        (captações) que será exposto a risco por meio da carteira de crédito. Por exemplo, se um banco possui Índice de          Basiléia de 20%, significa que, para cada R$ 100,00 emprestados, o banco possui patrimônio de R$ 20.

O índice mínimo exigido pelo Banco Central do Brasil é 11%.

  • Índice de Imobilização

Quanto mais reduzido for o Índice, maior agilidade terá o banco para usar seu patrimônio a fim de honrar seus           compromissos. Por exemplo, se um banco possui Índice de Imobilização de 30%, significa que, a cada R$ 100,00       em seu patrimônio, R$ 30,00 estarão investidos em bens que não possuem uma liquidez imediata, ou seja,                   imobilizado em imóveis, veículos, materiais, etc.

O índice máximo tolerado pelo Banco Central do Brasil é 50%.

Veja como estavam ambos os índices para as duas financeiras, segundo o site Banco Data.

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No caso da BRK Financeira

  • Índice basileia 0,6%

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Bem abaixo do recomendado pelo BC.

  • Índice de imobilização de 71,6%

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Do outro lado, índice extremamente acima do recomendado pelo BC que é no máxim 50% e imobilização.

Já em relação a Portocred

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  • Índice de Basileia de 4,3%, muito abaixo do mínimo exigido pelo BC.

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  • Índice de Imobilização de 23,1%

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Mas e agora, quem tem títulos como CDB, LCI, LCA dessas empresas, o que acontece?

Bom, você já deve ter ouvido falar do FGC né, que é o Fundo Garantidor de Crédito.

O FGC é uma instituição sem fins lucrativos, mantida por instituições financeiras justamente para momentos como esse.

Casos como BRK e a Portocred não são isolados e provavelmente não serão os últimos, tivemos casos muito famosos no passado como, Bamerindus, Banco Santos, Banco Neon, entre outros.

Quando isso acontece é muito ruim para o mercado financeiro como um todo. Isso gera um impacto em quase todos os demais bancos, caso aconteça um problema de insolvência em um “Bancão”, imagina o impacto?

Justamente visando diminuir esse impacto no sistema financeiro, as instituições juntas mantêm o FGC de pé. O FGC funciona como uma espécie de socorre ao sistema financeiro nacional em momentos de turbulência.

Veja resumo de quais são os títulos cobertos pelo FGC:

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Fonte: FGC Org

Classes de ativos muito comuns como CRIs, CRAs, Debêntures e outros títulos que são emitidos por instituições não financeiras, não são cobertos pelo fundo. Por isso, muito cuidado com o rating e a avalição de crédito dessas companhias.

Outro ponto importante é que o FGC só protege até R$250 mil reais por CPF. Ou seja, caso o investidor possua um valor investido em um CDB de uma instituição liquidada pelo BC no valor de R$300 mil reais, o máximo que será garantido pelo FGC é o limite definido por CPF (R$250 mil reais).

Devemos respeitar o limite sempre, considerando não somente o valor aplicado mas também, o possível rendimento até o vencimento do título, sendo assim o principal somado o ganho de capital não devem ultrapassar o limite máximo.

Além disso, há o limite de 1 milhão a cada 4 anos por investidor, para o caso de problemas com instituições diferentes, a cada 4 anos esse saldo é atualizado novamente para o limite máximo.

É evidente que não podemos sair por aí investindo em qualquer ativo pensando apenas no retorno, tomando como base a proteção do FGC, com certeza poder contar com esse “seguro” é uma ótima ideia. Mas ela não pode ser ponte para a nossa falta de cuidado e critério na hora de investir.

Fica essa lição, cada vez mais o mercado mostrando que temos que ter cuidados com nosso patrimônio e cada vez mais aprofundar sobre os nossos ativos.

Espero que tenha ajudado, até a próxima.

 

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