Investimentos

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Tempo vs. Investimentos

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Por Davi Lelis – Especialista em Investimentos

Se você pudesse viajar para o passado e encontrar o seu “eu” mais jovem e inexperiente, provavelmente ficaria tentado a dar inúmeros conselhos ou dicas, tais como:

. Dedicar mais tempo a determinadas atividades ou pessoas;

. Dedicar menos tempo a antigos hábitos;

. Talvez, simplesmente sorriria do quanto acreditava cegamente em uma ideia que, mais tarde, não era nada daquilo.

O ponto é o seguinte: com o passar dos anos, nossa forma de enxergar o mundo muda. E vai muito além: nossas prioridades e preocupações, fontes de alegrias, aflições e também o nosso foco.

Dessa forma, a tese que se apresenta neste artigo é que a maneira como investimos também muda, ou seja, não permanece estática.

Um pássaro precisa das duas asas

Existem, basicamente, duas características básicas que ajudam a organizar o tipo de investimento que faremos:

  1. Capacidade/Aptidão;
  2. Vontade/Disposição.

Essas são como as asas de um pássaro e você já vai entender o porquê.

Muitas pessoas chegam até mim com algumas ideias de quais investimentos querem fazer. Isso acontece, muitas vezes, embasados pelo vizinho que ganhou boas somas em dinheiro em determinada aplicação ou motivados por vídeos de um youtuber famoso, “formador de opinião” e super descolado.

Acontece que, dependendo do momento de vida em que a pessoa se encontra, poderemos aumentar a eficiência e a qualidade do resultado final considerando as duas características citadas.

Situação 1 – Vontade vs. Aptidão

Exemplo: uma pessoa A, mais madura, autônoma, salário variável, 3 filhos, única provedora da família, sem plano de saúde e que pretende investir para comprar uma casa ao fim de 3 anos de investimentos.

Essa pessoa quer alocar todo seu capital em ações de alta volatilidade e derivativos.

Por mais que essa pessoa queira, ela não tem capacidade de alocar, com tamanho risco de variação, todo seu capital nessa classe de ativos.

Por mais que tenha Vontade, não possui a Aptidão para isso, pois estaria exposta ao risco de precisar resgatar o dinheiro em uma emergência e o momento ser de baixa de preços de mercado.

Pode acontecer uma delação surpresa que faça com que as ações caiam 40% justamente em três anos no momento do saque. Assim, essa alocação não foi estratégica.

Situação 2 – Capacidade vs. Vontade

Exemplo: uma pessoa B, funcionária pública, jovem, salário regular, sem filhos, tem plano de saúde, mora com os pais e sua única preocupação é seu gato, Alfredo.

Essa pessoa me procura com o pedido para alocar todo seu patrimônio em títulos públicos de baixíssimo risco e ativos de renda fixa.

Ainda que tenha capacidade de tomar riscos, essa pessoa tem pavor em pensar nos seus investimentos variando negativamente, mesmo que por um período apenas.

A Capacidade de não precisar do dinheiro e poder deixá-lo variar existe, mas a Vontade não.

Nesses casos não existe certo ou errado.

Existem grandes economistas que são conservadores e pessoas desinformadas que são extremamente agressivas.

Isso é o perfil do Investidor.

Acontece que, para uma tomada de decisão correta e consciente, quando se trata de uma alocação em renda variável, precisamos das duas características:

. Tanto a Capacidade quanto a Vontade para essa tomada de riscos. Apenas com a combinação das duas, o pássaro pode voar.

Qual a relação dos riscos tomados nos investimentos com a idade?

Imagine-se como técnico de futebol do time de seu coração. Ou até mesmo uma grande seleção como a Associação Atlética Anapolina (A Rubra, para os mais íntimos), time da cidade onde eu nasci.

Como técnico, você preferiria levar um gol no primeiro ou no segundo tempo?

Com certeza, ninguém gostaria de tomar um gol nessa posição, mas sabemos que essas coisas acontecem e é melhor cogitar essa possibilidade para estar preparado quando acontecer.

A maioria das pessoas responde a essa pergunta dizendo que o melhor é tomar um gol no primeiro tempo. E com razão.

Isso lhe dá tempo de mudar a estratégia, reposicionar os jogadores em campo, passar um sermão e entrar em campo renovado para os próximos 45 minutos.

Quanto mais cedo começar, melhor

Na vida e nos investimentos, também é melhor errar mais cedo.

Quanto mais jovem somos, podemos assumir mais riscos, adaptando estratégias e esperando alguns anos para que a variação se torne positiva.

Em investimentos de mais risco, geralmente, temos uma possibilidade de rentabilidade maior, não uma certeza.

Dessa forma, é importante investir aquela parcela que não represente o “leite das crianças”. Em outras palavras, que não seja um dinheiro já compromissado com a compra de uma casa, o pagamento de um intercâmbio ou a mensalidade do plano de saúde.

Quanto mais tempo se pode esperar, mais diluído será o risco de precisar de um resgate e estar em um momento desfavorável.

Lembre-se: o tempo dilui o risco.

Em resumo: quanto mais velhos ficamos, menos riscos estamos dispostos a tomar e a estratégia muda.

Preocupamo-nos mais em conservar o que já construímos, em rentabilizar e proteger nosso poder de compra, além de gerar renda a partir da carteira de investimentos.

A Regra dos 100 – Mercado americano e brasileiro

Existe uma regra de bolso nos mercados americanos para aqueles que são iniciantes e precisam de uma resposta para a famigerada pergunta:

“Quanto devo alocar em renda fixa e quanto em renda variável?”

Essa regra diz o seguinte: pegue 100%, subtraia da sua idade e terá o percentual da carteira que deverá ser alocado em renda variável.

Por exemplo: se você tem 40 anos, fazemos 100% – 40 = 60%.

Nesse sentido, suas aplicações estariam 60% em renda variável – ações, fundos de ações, fundos multimercado de alta volatilidade, ouro, dólar etc.

E 40% seriam destinados à renda fixaCDBs, títulos pré-fixados do Tesouro, aplicações atreladas à Selic etc.

Ocorre que essa regra é voltada para o mercado americano, já mais robusto e menos volátil do que o brasileiro, ainda emergente.

Lá fora, os investimentos em ações e em renda variável já são culturalmente enraizados.

Naturalmente, os cidadãos fazem suas previdências em empresas e no recebimento de dividendos, o que torna essa regra muito agressiva e com baixa aderência ao cenário verde e amarelo.

Uma adaptação possível é transformá-la na regra dos 80.

80 – sua idade = Porcentagem da sua carteira em renda variável.

Dessa forma, um jovem de 30 anos teria 50% do seu patrimônio com variação e 50% sem variações.

A verdade é que essa regra tem apenas uma serventia: a sua ideia.

Ela mostra que, quanto maior a idade, menor deve ser a alocação em renda variável. Por outro lado, quanto mais jovem, mais podemos nos dar ao luxo de permitir a variação de uma parcela maior de nosso capital.

A maioria das pessoas gosta desse tipo de regra, ou seja, de uma receita de bolo para o sucesso. Isso gera uma zona de conforto de que se está fazendo a coisa certa e a decisão correta foi tomada.

Isso explica também, porque livros de passo a passo fazem tanto sucesso atualmente e figuram como best-sellers. “35 passos para a riqueza”, “13 lições para ser mais eficiente”, “15 formas e meia de não se importar com os problemas”.

Na vida, não sou adepto dessas receitas, pois existe um abismo entre Conhecimento e Habilidade.

Mesmo que você saiba de cor todos os ingredientes e todo o passo a passo de como fazer um bolo (Conhecimento), é bem provável que, na primeira vez que você o faça, ele saia queimado ou solado, pois ainda lhe falta a Habilidade para isso.

A Habilidade de fazer bons investimentos, nas proporções adequadas, virá com o tempo e chegará mais rápido se você tiver o acompanhamento de um profissional na área.

A Habilidade de fazer um bolo? Bem, essa não chega para todos.

Davi Lelis

Engenheiro pela Universidade de Brasília

>> Assessor da Valor Investimentos e Especialista em Investimentos.

e-mail: dferreira@valorinvestimentos.com.br

 

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