“Volatilidade não é uma medida de risco!
O problema é que as pessoas que escreveram e falaram sobre risco não sabem como medir o risco.
E a coisa legal sobre os dados que medem volatilidade é que são legais e matemáticos e errados em termos de medição de risco.”
Bem, basicamente o que Warren Buffett, em 2007, estava dizendo é que o ganhador do Prêmio Nobel de Economia de 1990, Harry Markowitz, e sua bela Teoria Moderna do Portifólio estavam completamente errados.
E a não ser que você seja um bilionário egocêntrico à frente de Buffett na lista da Forbes, é sempre bom escutar o que a 5ª pessoa mais rica do mundo tem a dizer…
Então vamos começar com uma breve historinha.
A polêmica teoria
O ano é 1955.
Passavam-se apenas 5 minutos do início da sua defesa de doutorado, quando Harry Markowitz foi interrompido por um dos avaliadores.
Milton Friedman era o nome dele.
Friedman foi um renomado professor da Universidade de Chicago, que havia ganho o Prêmio Nobel de Economia em 1976 e estava longe de proporcionar uma vida fácil aos seus alunos, principalmente a Harry.
“Harry, eu acho que a gente tem um problema aqui (…).
“Eu li a sua tese e eu não vejo nenhum problema com a matemática, mas isso não é economia e nós não podemos te dar o título de PhD em economia por uma tese que não é de economia…”
As mãos de Harry já suavam enquanto o título de doutor parecia se distanciar dele nas falas de Friedman.
“Você está com um problema.
Não é economia, não é matemática, não é administração de empresas…”
O professor Marschak completava:
“tampouco literatura…”
Surpreendentemente, aquela estranha tese de doutorado não apenas rendeu o título de doutor a Harry, mas também foi a base para a sua premiada Teoria Moderna do Portifólio.
E o que ela tem de tão interessante?
De acordo com Harry, quando um investidor busca maiores retornos, automaticamente ele deverá assumir maiores riscos.
E é exatamente esse problema que a teoria busca resolver.
Ela ajuda na montagem de uma carteira de investimentos otimizada capaz de gerar o maior retorno possível para um determinado nível de risco (entendido aqui como volatilidade).
Isso seria incrível, não?
Bem…
Eis que Warren Buffett, naquela conferência de 2007, entra de sola e critica duramente o conceito de risco adotado pela teoria de Harry.
“No início dos anos 1980, as fazendas vendidas por US$2.000/acre passaram a custar US$600/acre.
Comprei uma delas quando ocorreu o crash bancário e agrícola.
(…) E de acordo com a teoria econômica padrão ou a teoria do mercado, eu estava comprando um ativo de muito mais risco por US$600/acre do que a mesma fazenda por US$2.000/acre.
Só porque as terras agrícolas não são comercializadas com frequência e os preços não são registrados, eles [defensores da volatilidade como risco] considerariam um absurdo dizer que minha compra por US$ 600/acre da mesma fazenda (que foi vendida por US$2.000/acre alguns anos atrás) era mais arriscada.
Mas nas ações, só porque os preços oscilam a cada minuto e permitem que as pessoas que ensinam finanças usem a matemática que aprenderam (…), eles traduziram volatilidade passada como todos os tipos de medidas de risco.”
E aí Buffett finalmente descreve o que é risco na visão dele…
“O risco vem da natureza de certos tipos de negócios.
Pode ser arriscado estar em alguns negócios apenas pela simples natureza econômica do tipo de negócio em que você está.
E vem de não saber o que você está fazendo.
(…) Se você entende a economia do negócio em que está envolvido, conhece as pessoas com quem está negociando e sabe que o preço que paga é sensato, não corre nenhum risco real.”
Com argumentos contundentes, Buffett nos faz refletir sobre o real significado de risco que, para ele, nada tem a ver com o quanto os preços de um ativo variam para cima e para baixo ao longo do tempo (traduzido como volatilidade).
Mas então por que a Teoria Moderna do Portifólio é tão bem aceita pelos profissionais do mercado?
E mais importante: como a crítica de Buffet pode te ajudar nos seus próprios investimentos?
Pronto(a)? Então vamos lá!
Investir em bons ativos a bons preços
Esse é o resumo do conceito mais amplo de um bom negócio.
E não importa onde você aplique isso.
Quer fazer um bom negócio no mercado imobiliário? Compre bons imóveis a bons preços.
Quer fazer um bom negócio ao adquirir um carro? Compre um bom veículo a um bom preço.
Quer ter sucesso no casamento? Invista em uma boa pessoa a um bom…
… ok, certas coisas são impossíveis de precificar.
Mas considerando ativos financeiros, como ações, por exemplo, isso é perfeitamente possível (claro… com uma certa dose de subjetividade).
A grande questão aqui é: quanto tempo leva até que o preço pago atinja o valor que você espera para o negócio no futuro?
Se você conseguir essas respostas, parabéns. O próximo Nobel será seu.
Mas até o momento não é possível precisar quando o mercado irá precificar um ativo em determinado valor.
Enquanto isso, as opiniões divergem, oportunidades surgem, lucros ou prejuízos são apurados e os investidores profissionais seguem suas vidas apegados ao pensamento de longo prazo.
Não tem jeito… se você não consegue responder aquela questão fundamental, você deverá focar em prazos mais longos.
Deixa eu te explicar…
Imagine que você comprou uma nota de R$ 1 por R$ 0,5.
Nesse caso, você sabe quanto tempo leva até que o preço pago atinja o preço esperado para o negócio: leva o tempo de arrumar um comprador para adquirir a sua nota de R$ 1 pelo preço de R$ 1.
É um lucro de 100% quase que instantâneo.
Não é difícil concluir que se trata de um excelente negócio a curto prazo.
O grande problema é que oportunidades óbvias como essa não surgem na vida real.
Os ativos financeiros não tem uma etiqueta com o preço da próxima negociação. Não é possível comprá-los com a certeza de uma rentabilidade.
Compre ações da empresa X e veja o que acontece. Você não faz ideia de quanto ela valerá amanhã, mas você consegue estimar o valor daquelas ações com base em um processo chamado valuation.
Se o preço pago pelas ações for inferior ao valor estimado pelo valuation, sim, você deverá estar diante de uma boa oportunidade.
E já que não fazemos ideia de como os preços desse ativo irão se comportar no curto prazo, é prudente esperar que, um dia, o preço negociado no mercado se iguale ao valor estimado para o negócio.
É como diz Buffett:
“O preço é o que você paga; o valor é o que você leva. Falando de ações ou de meias, eu gosto de comprar mercadoria de qualidade quando está barato.”
É por isso que Buffett não liga para a volatilidade das suas próprias ações.
Não importa o preço que está sendo negociado no mercado. Se o valor do negócio é superior ao preço de compra, trata-se de uma boa escolha.
Mas espere um pouco…
Nem tudo são flores
Você é gestor(a) de um fundo de investimentos e é responsável por investir os R$ 1 bilhão em patrimônio dos clientes.
Para o seu azar, esses clientes são bem exigentes e não gostam de ver seus investimentos perderem mais de 20% em valor de mercado.
O que você faria?
- Dane-se a volatilidade! Vou investir em ativos com preço menor do que o valor.
- É melhor eu manter a volatilidade sob controle antes que eles arranquem a minha cabeça.
Não é atoa que Buffett optou por não se tornar um gestor de fundo aberto.
Ele resolveu ter sócios no lugar de cotistas.
Com sua empresa de capital aberto, a Berkshire Hathaway, Buffett realiza os investimentos que bem entender sem se preocupar com a volatilidade, simplesmente porque ele não é obrigado a adquirir as ações dos sócios que desejam deixar o negócio.
Se algum acionista está insatisfeito com a gestão de Buffett, ele pode simplesmente vender suas ações a outro investidor por meio da bolsa de valores.
Por outro lado, se um gestor de fundo ignora a volatilidade, muitos cotistas conservadores solicitam o resgate das cotas e ele se vê obrigado a vender ativos financeiros para honrar o seu compromisso com esses clientes.
E eu nem preciso dizer que ter que vender algo às pressas para pagar alguém não costuma ser um bom negócio…
Isso afeta diretamente a política de investimentos do fundo e, consequentemente, a sua rentabilidade.
Então, sim! Quanto mais conhecimento você mesmo(a) tiver sobre investimentos, melhor tende a ser a rentabilidade da sua carteira.
Não importa o quão competente seja o seu assessor de investimentos. Clientes com perfis conservadores (que se incomodam com a volatilidade de curto prazo) tendem a ter uma rentabilidade menor do que aqueles com perfil arrojado.
É imperativo que os profissionais do mercado respeitem o perfil do investidor, apesar disso impactar nos resultados a longo prazo, pois aventuras ousadas com o dinheiro de terceiros pode sair muito mais caro.
“O maior problema do investidor — e mesmo seu pior inimigo — é, provavelmente, ele mesmo” (Benjamin Graham, um dos mentores de Buffett).
Essa frase ilustra bem as consequências que a incongruência entre o perfil do investidor e a política de investimentos adotada podem trazer.
Então aqui fica um convite…
Esteja minimamente interessado em aprender sobre investimentos e a entender como utilizar o longo prazo ao seu favor, apesar da volatilidade de curto prazo.
Até mais!