“Investir consiste exatamente em uma coisa: dar atenção ao futuro. E como nenhum de nós é capaz de ter certeza sobre os acontecimentos futuros, o risco é algo inevitável.” Assim começa um dos capítulos da obra The Most Important Thing, de Howard Marks, vice-presidente e um dos sócios-fundadores as Oaktree Capital. Segundo o autor, a avaliação do risco é um elemento essencial no processo de investimentos por três razões: (i) Em finanças assumimos que as pessoas são naturalmente avessas ao risco, o que significa que preferem evitá-lo; (ii) Quando desejamos investir, a decisão deve ser em função dos riscos incorridos.Em virtude de um processo de ajuste dos preços relativos (equilíbrio), os retornos prospectivos são proporcionais aos riscos; (iii) Quando consideramos os resultados de um investimento, o rendimento por si só possui um significado limitado. O risco assumido também precisa ser avaliado.

Ao avaliar o rendimento de sua carteira, o investidor deve avaliar o “retorno ajustado ao risco”, questionando-se: os rendimentos foram obtidos com instrumentos seguros ou arriscados? Com títulos de renda fixa ou ações? Com grandes empresas consolidadas ou com empresas menores e mais instáveis? Com alavancagem ou sem? Com uma carteira concentrada ou diversificada?

Mas, afinal de contas, o que é risco? Os investimentos mais arriscados são aqueles para os quais o resultado é menos certo. Ou seja, a distribuição de probabilidade dos retornos é maior.

Lawrence Summers, ex-secretário do Tesouro dos Estados Unidos, durante a Expert XP 2022, maior evento de investimentos do mundo, alertou: “Cuidado. Mais dinheiro foi perdido por ficar de fora do rally de alta do que foram poupados evitando as quedas e os vales. Essa é uma lição muito importante da história financeira. As pessoas ficam alarmadas, mas com frequência, quando elas ficam alarmadas, parte do alarme já foi precificado no mercado. E quando alguém retira o dinheiro do mercado, é muito difícil saber quando recolocá-lo. Geralmente, você retira o dinheiro dos mercados quando eles estão em baixa e é difícil recolocar dinheiro quando o mercado ainda está em baixa. Então as pessoas só acordam quando o mercado sobe em 25%, e daí perdeu parte significativa do jogo.

Então, meu conselho geral seria o seguinte: tentem entender o que está acontecendo, tentem ajustas as carteiras, mas eu seria cuidadoso sobre deixar alguém assustado a ponto dessa pessoa decidir tirar o dinheiro do jogo, porque isso no longo prazo se provou ser uma estratégia que custa caro”. 

Crises também geram oportunidades. O “big money” e o “easy money” em investimentos são gerados através das coisas que outras pessoas não querem ou têm medo de fazer. Geralmente, isso inclui investir em períodos de tensão nos mercados. Uma boa definição de “gênio investidor” é a pessoa capaz de tomar uma decisão mediana enquanto todos ao seu redor estão enlouquecendo. Uma personalidade bem calibrada – otimista quanto ao futuro, mas desconfiada em relação ao que pode impedir esse futuro de chegar – é vital.

É difícil prever o que os investidores vão fazer no futuro com base apenas no que fizeram no passado. Coisas que nunca aconteceram antes acontecem o tempo todo. A mão invisível odeia que qualquer coisa permaneça boa demais ou ruim demais por muito tempo. Estabilidade não existe. Isto posto, como devemos pensar e planejar o futuro?

1. Reserve sempre uma margem para imprevistos. A beleza da margem para imprevistos é que ela admite que a incerteza, a aleatoriedade e o acaso – “o desconhecido” – são parte integrante da vida;
2. Não existe almoço grátis. Nada é de graça. Tudo tem um preço, mas nem todo preço vem escrito na etiqueta. Um investimento bem-sucedido cobra um preço que é medido em volatilidade, em medo, em dúvida, em incerteza e em arrependimento. Você sabe como é difícil manter uma perspectiva de longo prazo quando as ações estão despencando? Por que tantas pessoas dispostas a pagar o preço de carros, casas, comida e férias se esforçam tanto para evitar pagar o preço do retorno dos bons investimentos? Defina o preço do sucesso e esteja disposto a pagá-lo.
3. O tempo é a força mais poderosa nos investimentos. Faz os capitais pequenos crescerem e os erros maiores desaparecerem. Se você deseja se tornar um investidor melhor, a coisa mais poderosa que pode fazer é aumentar seu horizonte de tempo.
4. Poupe sempre. Não conheço nenhum rico que gasta mais do que ganha. Faça da poupança um hábito.

Acumular uma fortuna tem pouco a ver com seus rendimentos ou com o retorno dos seus investimentos, e muito a ver com quanto você economiza regularmente. Uma fortuna é simplesmente o que sobra depois que você gasta o que ganha. Temos a tendência de presumir a fortuna dos outros pelo que vemos, porque essa é a informação que está diante de nós. A fortuna na verdade é algo escondido. São os carros de luxo não adquiridos. Os diamantes não comprados. Os relógios não usados, as roupas deixadas nas araras e o assento na primeira classe recusado. Fortuna são os ativos financeiros ainda não convertidos em coisas que podem ser vistas. Está tão arraigada em nós a ideia de que ter dinheiro é gastar dinheiro que não conseguimos enxergar a prudência necessária para se acumular uma fortuna. E, como não conseguimos enxergá-la, é difícil aprender sobre ela.

Em seu livro A Psicologia Financeira, Morgan Housel defende que o sucesso financeiro tem menos a ver com a sua inteligência e muito mais a ver com o seu comportamento. Saber o que precisa ser feito não tem relação alguma com o que acontece dentro de sua cabeça quando você tenta fazer a coisa em si. Cada pessoa tem uma visão única e particular sobre como as coisas funcionam.

Pessoas de gerações diferentes, criadas por pais diferentes que ganham rendas diferentes e acreditam em valores diferentes, em partes diferentes do mundo, nascidas em economias diferentes, vivendo em mercados de trabalho diferentes com incentivos diferentes e graus de sorte diferentes, aprendem lições bem diferentes. Todos nós experimentamos apenas uma pequena fração do mundo. O desafio, para nós, é que nenhum volume de leituras ou de empatia é capaz de recriar genuinamente o poder do medo e da incerteza.

Recentemente, Charlie Munger, vice-presidente da Berkshire Hathaway e braço direito de Warren Buffett, faleceu aos 99 anos de idade, deixando uma fortuna estimada de 2,3 bilhões de dólares. O advogado, arquiteto, filantropo e megainvestidor era também conhecido pelas suas pílulas de sabedoria que compartilhou ao longo de sua vida. O vasto material de aprendizado generosamente dividido em vida serve como reflexão nos momentos de angústia e dúvida que, por obra da vida, são praticamente diários. Compartilho abaixo as minhas citações preferidas:

1. “A vida terá golpes terríveis, golpes horríveis, golpes injustos. Não importa. Algumas pessoas se recuperam e outras não. Acho que a atitude do [filósofo grego] Epicteto é a melhor. Ele acreditava que cada chance perdida na vida era uma oportunidade de se comportar bem. Cada chance perdida era uma oportunidade de aprender alguma coisa e que seu dever é utilizar o golpe terrível de maneira construtiva. Essa é uma ideia muito boa”.       
2. “A forma mais fácil de conseguir o que você quer é merecendo isso. É uma ideia simples. Essa é a regra de ouro. Você quer entregar ao mundo o que compraria se estivesse do outro lado. Em geral, quem tem essa virtude, vence na vida. Mas não ganham só dinheiro, honras ou emolumentos. Eles ganham o respeito, eles merecem a confiança das pessoas com quem lidam.”
3. “O segredo para uma vida longa e feliz é muito simples. Basta não ter muita inveja, não ter muito ressentimento, não gastar demais a sua renda, ficar alegre apesar de seus problemas, lidar com pessoas confiáveis e fazer o que deve ser feito. Todas essas regras simples funcionam tão bem para tornar a sua vida melhor. E elas são tão bobas. Eu sempre fui capaz de reconhecer outras pessoas que estavam um pouco malucas e isso me ajudou pois há muita irracionalidade no mundo…” 

Termino essa carta agradecendo a cada um dos meus clientes pelos quase 100 milhões de reais confiados à mim nessa deliciosa missão que é investir e também a minha família que tanto fez (e continua fazendo) para que hoje eu esteja aqui. Família é o ambiente onde o ser humano desenvolve suas virtudes. São justamente as pessoas que Deus nos confiou para começarmos a praticar o amor ao próximo, o sacrifício, a doação, a dedicação. A família é a forma mais perfeita para darmos sentido para a nossa vida.

Esta carta foi elaborada por Fabrício de Lima, sócio e assessor de investimentos na Valor, especialista em Investimentos e Private Banking (IBMEC) com MBA em Gestão e Engenharia da Qualidade (USP). É engenheiro (UFV) e empresário.