Análise e Opinião

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Big Bad Market

Por
Rafael Ostronoff

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Afinal, o que é o mercado financeiro?

Logo após a sua eleição para presidente do Brasil em 2022, o então candidato eleito Lula da Silva soltou a seguinte frase: “o mercado fica nervoso à toa”. Política à parte, afinal, quem é esse tão falado mercado e por que ele estaria tão nervoso?

Longe de ser uma entidade super poderosa ou um vilão malvado de filmes da Marvel, o mercado financeiro não é na verdade uma única pessoa ou instituição, mas sim a personificação que damos a vários agentes distintos e participantes de um sistema complexo que envolve desde a compra e venda de ativos financeiros (como ações, títulos de dívida, moedas, commodities, etc) até agencias reguladores que propõem e executam normas e leis que regem essas transações entre ativos. Por mais complexo que possa parecer, se você alguma vez comprou um CDB de um banco, uma ação de empresa, ou mesmo guardou seu dinheiro na poupança, você então fez parte e uso do tão temido e mal falado mercado.

O mercado financeiro é um componente essencial da economia global, que desempenha um papel fundamental na alocação de recursos, no investimento, no gerenciamento de riscos e na estabilidade econômica. Ele oferece oportunidades de investimento, financiamento para empresas e governos, e ajuda a determinar os preços dos ativos, impactando direta e indiretamente a vida de pessoas e organizações em todo o mundo.

Mas para que ele serve, além de deixar o Elon Musk ainda mais rico e o Lula nervoso? Não é incomum vermos pessoas na mídia atacando o mercado financeiro como se ele fosse o grande mal da humanidade, sem função social alguma a não ser explorar os pobres e enriquecer ainda mais os já ricos.

Essa é, na verdade, uma ideia que não encontra ecos na realidade. A verdadeira e grande função do mercado financeiro (na verdade, de seus participantes) é a de tomar risco e gerar liquidez. Imagine uma mercearia no seu bairro. O que ela produz? Absolutamente nada… ela compra itens de produtores que estão distantes dos grandes centros e os aproxima do público consumidor. Nesse processo, corre o risco de ter que transportar, armazenar, distribuir, todos esses produtos e vendê-los antes que estraguem.

Sem falar no risco de comprar por um preço e ter que revender com prejuízo caso os preços caiam. O que a mercearia perto da sua casa faz é mover os bens de consumo de longe para perto do consumidor. Ela gera a chamada liquidez e, de quebra, assume o risco de perda da mercadoria. Da mesma forma, o mercado financeiro move o dinheiro de lugares distantes onde o rendimento seria baixo, para lugares próximos a uma taxa de investimento mais atraente. E nesse caminho, toma o risco do não pagamento de alguma parte envolvida. Eu sei, parece complexo, mas não é. Imagine que você quer passar sua tarde de domingo ao ar livre na avenida Paulista, e para isso vai de metrô da sua casa até lá. Até aí, nada demais. Mas como o metrô que você pega para ir até a Paulista foi parar perto de você? Bom, alguém teve que construí-lo, certo? E para isso foi necessário dinheiro. Bastante dinheiro. E de onde veio esse dinheiro, já que todos sabemos que governos vivem quebrados? É aí que entra o mercado financeiro. Imagine agora a senhora Mary Jane, uma simpática velhinha de Massachussetts que passa as manhãs cuidando de suas plantas no jardim.

O que ela e o seu passeio a tarde na paulista tem em comum? Nada, você diria, mas é aí que você se engana. Miss Mary é aposentada e todos os seus recursos estão depositados em um fundo de aposentadoria americano. Esse fundo por sua vez precisa buscar sempre recursos que rendam acima da inflação americana para garantir a miss Mary tenha uma vida tranquila e que sua aposentadoria não vire fumaça. Em busca de uma rentabilidade maior do que paga um título do tesouro americano, o gestor do fundo onde está a aposentadoria de miss Mary procura por oportunidades de investimentos em outros países com uma taxa de juros maior. Por fim, esse fundo acaba investindo na construção de uma linha de metrô em São Paulo, cidade que nossa simpática miss Mary jamais visitaria e talvez nem saiba que existe. Mas, através do mercado financeiro, esse dinheiro sai dos Estados Unidos e vem parar no Brasil.

Isso é a chamada liquidez. E o fundo assume o risco de a construtora do metrô quebrar, não pagar e dar o calor. Assim como a mercearia do seu bairro. Dessa forma, se tudo der certo, todos ganham. Ganha você, que terá uma linha de metrô perto, ganha miss Mary, pois sua aposentadoria renderá mais, ganham os trabalhadores que construíram o metrô, a cidade, o gestor do fundo, e assim por diante. Essa é a grande e verdadeira função do mercado financeiro. Um mercado justo que opera por meio de regras claras e funcionais tende sempre a encontrar alguma forma de equilíbrio, fazendo o dinheiro ir de um lugar para outro e gerando mais riqueza para os participantes envolvidos. As plantinhas de Miss Mary agradecem.

 

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