Costumamos dizer que o mercado não espera, ou seja, ele sobe (ou cai) de uma única só vez. Para termos uma ideia: de julho para cá já houve em uma alta de mais de 15% do principal índice da bolsa brasileira, o Ibovespa. No ano, mesmo depois de todo esse rally (aumento diferenciado na cotação de um ativo financeiro, em sucessão a um período de baixa ou estagnação nos preços) temos uma alta de quase 8% e um desempenho abaixo da média.
Como já foi discutido aqui na coluna, apesar do índice Bovespa representar a bolsa brasileira, ele não é necessariamente uma boa proxy (representação abstrata do movimento de um mercado financeiro e geralmente é representado em cálculos de investimento por índices de mercado padrão) do desempenho médio das ações ou mesmo das nossas empresas.
Por ser baseado em uma metodologia que atribui mais peso a empresas de maior valor de mercado, o índice é extremamente concentrado em poucas empresas (Petrobras, Vale e principais bancos representam 40%).
Mesmo assim, ainda estamos falando de uma alta de 15% em um período de 45 dias. Em outras palavras, isso é uma tremenda valorização. É bem verdade que a bolsa brasileira negociava em um patamar de preço bem descontado em relação aos padrões históricos, mas a performance de curto prazo surpreende.
Agora, resta-nos saber se estamos diante de uma mudança de tendência importante, assim como vimos no segundo trimestre de 2016 ou se estamos dentro de um pequeno voo de galinha.
É comum dentro de Bear Markets (mercados em queda), que haja momentos de respiro sucedidos por retomadas na desvalorização das principais ações. Esse padrão é chamado de “dead cat bounce” ou, em versão abrasileirada, o quique do gato morto.
Detalho em seguida, alguns dos motivos que me levam a crer que não estamos em uma situação como essa:
- Valuation das empresas ainda está em um patamar muito descontado;
- Ao que tudo indica estamos próximos ao nível de inflexão na taxa de juros básica da economia (historicamente é um ponto de inflexão dos mercados);
- Enxergamos melhoras em alguns indicadores de tendência da economia como o desemprego e taxa de inflação.
É normal, depois de uma alta como essa, que o mercado passe por uma correção. Mesmo assim, enxergo que existe ainda muito espaço para valorização das empresas e do mercado como um todo.
Os principais pontos opositores a essa tese na minha visão são: o descontrole inflacionário na zona do euro e na economia americana, bem como a trajetória de juros dessas economias.
Mas isso é assunto para outra coluna.
Este artigo tem como objetivo democratizar o acesso à educação financeira via Pedro Lang, especialista da Valor Investimentos.