Metal precioso amplamente utilizado em todo o mundo, o ouro vem ganhando relevância e é digno de atenção extra na atual conjuntura de incertezas políticas e econômicas neste ano de 2022.
Mais do que isso, por um viés defensivo, o metal tem ganhado importância na composição das carteiras de investimentos, adicionando peso à classe de investimentos alternativos. Em outras palavras e nessas circunstâncias, o ouro tem servido para proteção adicional contra crise e pressão inflacionária.
Ouro: porto seguro em momentos de crise
Primeiramente, devemos entender que o ouro historicamente é visto como “porto seguro” em cenários de crise, já que é considerado, inclusive pelos bancos centrais, como uma reserva de valor sólida e segura.
Por essa razão, sempre que temos um cenário mundial de grande aversão a risco, a exemplo do que se deu na pandemia da Covid-19 em 2020 e, mais recentemente, no conflito armado entre Rússia e Ucrânia, vimos a demanda pelo metal disparar, impulsionada por uma fuga de capital de ativos de maior risco. O resultado disso foi a subida gradual no preço dessa commodity.
Segundo ponto: é historicamente conhecida a correlação do ouro com a inflação no mundo. Em geral, o ouro mostra uma valorização acima da inflação quando temos uma alta generalizada nos índices de preços, como vimos em 2021 e como é projetado para 2022.
Vale lembrar que as sanções comerciais impostas em razão da atual guerra geram forças inflacionárias em uma economia global que ainda vem se recuperando dos choques de oferta gerados pela pandemia.
Desde os rumores iniciais da pandemia (setembro – 2019) até o ápice do pânico (agosto – 2020), o preço da grama do ouro saltou de U$$ 49,02 para U$$ 64,46, valorização de cerca de 31,5%. Em seguida com o avanço da vacinação e uma expectativa de maior estabilidade econômica, recuou em torno de 12% (U$$ 56,51) até setembro de 2021.
Em 2022, com as pressões inflacionárias no mundo e o estouro da guerra, voltou a subir a patamares próximos do recorde histórico. Nos 10 dias seguintes à confirmação da invasão russa (entre 25 de fevereiro e 08 de março), o ouro que já vinha sendo negociado a patamares próximos às máximas históricas, apresentou ainda uma valorização de cerca de +8%, retornando ao preço de U$$ 61,50/grama.
Muito pelas razões citadas, os bancos centrais ao redor do mundo têm aumentado a parcela da reserva em ouro, como medida preventiva para resistência às turbulências políticas e econômicas.
Em destaque, os bancos centrais da Rússia e da China têm elevado substancialmente ao longo dos últimos anos o percentual de suas reservas do metal precioso. Essa iniciativa, agora, é impulsionada por um fator extra, já que o ativo é muito menos susceptível às sanções comerciais e casuísmos políticos.
Ainda vale um destaque: a China ainda possui uma reserva irrisória em ouro, de forma que um pequeno aumento na reserva chinesa tende a gerar um impacto relevante na demanda mundial pelo ativo.
O ouro, hoje, está sendo negociado a patamares elevados e próximo das máximas históricas, principalmente pela conjuntura política e econômica atual. Ainda assim, grandes gestoras como Dahlia e Legacy sinalizaram recentemente em suas cartas a manutenção das posições compradas no metal. Em rumo semelhante, a Kapitalo zerou as posições vendidas nesse ativo, sugerindo que também não avista uma expectativa de baixa no preço do ouro.
Apesar disso, é importante ressaltar que em caso de uma mudança na direção das marés e uma redução na demanda desse metal, é possível que tenhamos uma queda gradual no preço. Se isso ocorrer, entretanto, em uma carteira adequadamente diversificada é provável que outros ativos ligados ao otimismo econômico (ações, FIIs, alguns títulos de Renda Fixa, entre outros) apresentem uma valorização.
Por essa razão, esse metal tende a atuar como um “contrapeso” na carteira em momentos de crise, apresentando uma valorização quando outros ativos mostram uma rentabilidade real inferior, seja por uma queda direta no valor dos ativos ou corrosão no poder de compra em razão da inflação.
É difícil mensurarmos com precisão os desdobramentos dos conflitos, a extensão das sanções comerciais, a intensidade dos choques de oferta e ainda, o impacto de tudo isso nos índices de inflação. No entanto, sabemos que, quanto mais crítico o cenário, maior a tendência de valorização do ouro.
Reitera-se que o ouro representa dessa forma uma estratégia de defesa e deve ser aplicado nesse contexto. Lembramos, entretanto, que para um time de futebol campeão, a defesa é tão relevante quanto o ataque. Da mesma forma, uma carteira de investimentos consistente no longo prazo deverá conter ativos que se beneficiam de um cenário econômico positivo em conjunto com ativos que defendam a carteira durante as turbulências.
Dentro desse contexto, em linha com muitos dos bancos centrais do globo, e ainda, grandes gestoras do Brasil, para o investidor que deseja reforço adicional na defesa do patrimônio frente a numerosas incertezas previstas para o longo do ano, uma exposição adequada ao ouro, em conjunto com uma carteira diversificada, representa o zagueiro de primeira linha para um esquema tático mais defensivo e preparado para o adversário agressivo que tende a ser o ano de 2022.
Formas de investir em ouro
As principais forma de investir em ouro são através de ETFs de ouro, lotes de ouro no mercado à vista, contratos de opuro no mercado futuro e ainda BDRs de mineradoras de ouro. Todos esses estão disponíveis na B3 e podem ser acessados pela plataforma XP.
São detalhadas a seguir cada uma das possibilidades, enfatizando as vantagens e as restrições:
ETFs de Ouro (Exchange-traded fund)
Essa é certamente a forma mais prática para investir no metal, pela liquidez e disponibilidade em bolsa e ainda a forma mais democrática, já que permite compras a partir de 1 cota, tornando-o acessível a praticamente todos os investidores.
Um ETF, ou fundo de índice, é um fundo de investimento que objetiva espelhar a performance de um benchmark (indicador de referência). No caso do ouro, temos o GOLD11, o primeiro ETF de ouro da bolsa brasileira. O GOLD11 realiza seus investimentos com base no ETF iShares Gold Trust, listado na bolsa de Nova Iorque (NYSE). Na prática, esse ETF replica o preço do ouro em dólar e é o primeiro do mercado brasileiro com essas características.
Mercado à vista
Sob o código OZ1D, representa um contrato de ouro em lingotes de 250g de ouro fino. Temos também nesse produto os lotes fracionários, OZ2D e OZ3D, que representam contratos de 10g e 0,225g, respectivamente.
A negociação, nesse caso, deve ser feita através da mesa de operações da corretora ou do escritório, já que nem sempre está disponível no home broker.
Contrato futuro de ouro
É possível também comprar ouro na bolsa por meio de contratos futuros, sob o código de negociação OZ1. Cada contrato corresponde a 250 gramas de ouro fino. Não há lote fracionário para esse produto. Portanto, o valor mínimo de aporte pode ser elevado para alguns investidores (acima de 270k BRL).
Um grande ponto de atenção aqui é que esse contrato possui liquidação exclusivamente física, isto é, o detentor do contrato no vencimento deverá retirar o ouro físico. Se não há intuito de retirar o ativo como ativo físico, este deverá ser vendido antes da data de vencimento do contrato.
Como todo contrato futuro, há nesse caso o ajuste diário conforme oscilação no preço do ativo.
BDRs
Uma outra forma de se expor ao ouro é através de empresas mineradoras do metal. Na bolsa brasileira, temos a BDR AURA33, lastreada na empresa canadense Aura Minerals, com atividade voltada à exploração, desenvolvimento e operação de ouro e alguns outros metais.
Nesse caso, embora haja uma forte correlação com o preço do ouro, o retorno desse produto é influenciado também pela performance operacional da empresa, entre outras questões que vão além da cotação do ouro.